Vasco

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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

TRAGÉDIAS (FLAZEIRAS) DA COLINA

 1 - Aconteceu durante a temporada 1989, pela Taça Guanabara. Não se decidia nada e o Flamengo vencia, por 1 x 0, com gol marcado por Bebeto.
Aos 28 minutos do segundo tempo, faltou  energia elétrica nos refletores do Maracanã, levando o juiz a interromper a pugna. Como a iluminação demorava a voltar, o cartola vascaíno Eurico Miranda ordenou à sua rapaziada para ir embora pra casa. Resultado: o destino go jogo foi parar no Tribunal de Justiça Desportiva, e o Vasco perdeu os pontos do clássico.

2 - Rolava o Brasileirão da mesma temporada 1989. A brasa de Vasco x Flamengo da ocasião seria o primeiro jogo de Bebeto (o baiano José Roberto Gama de Oliveira) contra o seu ex-clube, do qual o Almirante o tirara, recentemente. Além de não ter dobrado a turma do outro lado do balcão, Bebeto ainda foi expulso de campo, após o Fla mandar a segunda bola na rede. E as glórias daquela tarde no Maracanã sobraram para um atacante desconhecido pela maioria dos torcedores, um tal de Bujica, que vestia a camisa 9 rubro-negra. Depois, fez mais oito gols, em 44 jogos e desapareceu da vida flamenguista.

3 – Herói da Copa do Mundo-1994, o ex-vascaíno Romário voltou ao futebol brasileiro, em 1995, para defender o Flamengo. Quando teria o Vasco pela frente, começou a sacanear a torcida almiranteira, mandando-a levar lenços para enxugar lágrimas no Maracanã. E não deu outra. Ele marcou o gol da vitória rubro-negra, por 1 x 0, e, durante a comemoração sinalizou para a sua antiga galera tirar os lenços dos bolsos.

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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

HISTÓRIAS DO KIKE - VOAR NÃO É SÓ COM OS PÁSSAROS, MOSTRA HOMEM DO CIRCO

  O goleiro mais espetacular da história do futebol brasileiro foi Pompéia, que fez fama defendendo o América-RJ da década-1960. Para ele, estrar debaixo da traves era o memo que transitar de um trapézio para o outro. Nas bolas aéreas, não perdia a chance de decolar e se divertir lá por cima, além de consagrar fotógrafos pelos cliques de seus incríveis voos que faziam os antigos speakers criarem os mais mirabolantes bordões. Ganhou. Do locutor Waldir Amaral, da Rádio Globo-RJ,  o apelido de ‘Constellation”, tirado avião quadrimotor a pistão, que voou entre 1943 e 1968, transportando passageiros e topas militares, bem como servindo ao pesidente norte-americano Dwight Eisenhower. Outros locutores o chamavam por Ponte Aérea, Fortaleza Voadora e Caravelle, nome de um outro modelo de avião.

   Pompeia reprouzido da Revista do Esporte

Antes de ser goleiro, Pompeia não ligava pra futebol. Em sua cidade, a mineira Itajubá, vivia brincando de saltar o que pudesse e disputando corridas com os amigos. Aos 12 de idade, pintou pela terra o Circo Americano Bandeirante. Ao parar para admirar um artista treinando saltos de trampolim, o cara o indagou se ele teria coragem de encarar. Disse sim e mandou ver, no momento em que ia chegando o dono da casa. Fugiu, com medo de levar um esporro, mas terminou foi sendo convidado, pelo homem, pra treinar mais e ganhar um dinheirinho. Passou três meses aprimorando as piruetas no chão e, depois de muitas quedas sobre rede, passou duas temporadas e meia no ofício de volante (artista que salta). 

 Estudante da escola profissionalizante da Fábricas Nacional de Armas, o adolescente Pompeia que disputava corridas de fundo e salto em altura, o  pelas tantas, foi convidado a participar de um treino do Atlético de Varginha, que visitava Itajubá. Entrou pela ponta-direita e, como ninguém lhe pegava na corrida e nem saltava tão alto para cabecear bolas aéreas, ele marcou dois gols. Com aquilo, tornou-se centraovante do time da Fábrica de Armas e, uma temporadas depois, do São Paulo itajubense, pelo qual marcou gols em amistosos contra os paulistanos Juventus e Bragantino, que quiseram levá-lo -prefriu ficar em sua terra.

 Mais uma vez, o famoso “lá pelas tantas” rolou na vida de Pompeia. O São Paulo itajubense foi a Três Pontas-MG e seu goleiro adoeceu. Por ser alto e forte, ele teve de usar a camisa 1. Arrasou e, a partir dali, decidiu ser goleiro, para sempre. Mais um tempinho depois, o Bonsucesso-RJ foi a Itajubá e Pompeia voltou a pegar muito para a selecionado municipal. No primeiro de abril de 1953, recebeu carta-convite do Bonsuça pra ser um rubro-anil, imaginou que fosse sacanagem de algum amigo, um “primiro de abril”, mas era verdade no “Dia da Mentira”.


                                Reprodução da Revista do Esporte
                 Garoto-propagana para o locutor Waldir Amaral

Em seus inícios no Bonsucesso, o treinador Alfinete levava-o ao Maracanã para ver os maiores goleiros brasileiros da época em ação, o vascaíno Moacir Barbosa e Carlos Castilho, do Fluminense. Ele os aplaudia, mas não os copiava, matinha o seu estilo acrobático, com o qual estreou bom-sucessense no segundo turno do Campeonato Carioca-1953, ainda aspirante, vencendo o Botafogo, por 1 x 0. No jogo contra o América, agradou tanto aos amerianos que estes lhe tiraram do Bonsucesso. Estreou, como profissional do Diabo (apelido do América), amistosamente, em 1954, vencendo o Santos, por 2 x 1, e defendendo pênalti cobrado por Pepe, ajudando o seu time a conquistar o Quadrangular Internacional de Lima, no Peru, com as participaões, também, dos locais Alianza e Universitário.

José Valentino da Silva foi como Joaquim Valentino da Silva e Maria José Valentino lhe batizaram e registraram, tendo nascido em 27 de de setembro de 1934. O apelido foi porque, quando estudante o antigo curso primário (primeiro grau) vivia desenhando o marinheiro Popeye, personagem dos quadrinhos norte-americanos. Por não conseguirem pronunciar o nome do herói, os colegas falavam Pompei, que virou Pompeia e lhe acompanhou até o seu último dia de vida, em 18 de maio de 1996.

Campeão carioca, pelo América-1960, e venezuelano, pelo Deportivo Português-1967(9?) jogava usando uniforme negro ou cinza, como todos os goleiros do seu tempo. Entusiasmava ao teatrólogo Nélson Rodrigues - também, cronista esportivo – que, certa vez, escreveu: “... Pompeia... bela e emocionante figura... o goleiro mais plástico, mais elástico, mais acrobático do mundo. Nada tem de simples: complica tudo... não sabe defender sem um salto ... sem um vôo. Pompéia voa... enfeita, dramatiza, dinamiza ... Ele é o espetáculo.”

O livro sobre a Seleção Brasileira-1914-2004, de Roberto Assaf/Antônio Carlos Napleão, não cita participação de Pompeia com a camisa canarinha, mas há uma foto (abaixo) publicada pelo site terceirotempo.uol.com.br que circula pela Internet em que ele aparece na Seleção Brasileira sendo o terceiro em pé, da esquerda para a direita, antecedido por Djalma Santos e tendo à sua esquerda Edson, Formiga, Zózimo e Hélio; agachados, na mesma aordem, Canário, Romeiro, Leônidas da Selva, Zizinho e Ferreira, comandados pelo treiandor Flávio Costa.

Há pesquisadores contando que o time da foto citado acima foi formado pela Confederação Brasileira de Desportos (atual CBFutebol) para jogos contra selecionados sul-americanos. Citam, inclusive, jogo-treino (apitado por Alberto da Gama Malcher) , em São Januário, no 9 de junho de 1956, contra o Bonsucesso, goleado, por 4 x 1, com gols de Leônidas da Selva (2), Romeiro e Canário, alinhando assim o selecionado: Pompéia, Djalma Santos (Rubens) e Édson; Hélio (Nílton Santos), Formiga e Zózimo (Osvaldinho); Canário (Calazans), Zizinho, Leônidas "da Selva" (Paulinho); Romeiro (Ilton Vaccari) e Ferreira – treinado por Gentil Cardoso, o Bonsucesso foi: Humberto (Veludo), Mauro e Gonçalo (Édson); Décio, Pacheco (Edil) e Gilberto; Milton (Nicola) (J. Alves),Vivinho, Válter Prado, Valdemar e Nilo.

Em 1957, Pompeia substituiu Castilho no jogo final São Paulo x Rio de Janeiro, no Pacaembu, pelo Campeoanto Brasileiro de Seleções Estaduais, formando neste time: Pompeia, Paulinho de Almeida (Vsc) e Bellini (Vsc); Zózimo (Bang), Benedito (SCris) e Altair (Flu); Joel (Fla), Índio (Fla), Valdo (Flu) e Dequinha (Fla) e Pinga (Vsc), comandados por Sylvio Pirillo. 

                       

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O "IZPRITO" DA COLINA



 
O SPRITO DA COLINA

Início às 19h27 de 19.03.2019 (terça-feira)

SEM REVISÃO

 

Ele era mais conhecido por Seu Açaite, nome pelo qual era invocado e baixava no Terreiro Kisci-Shára, à Rua Jansen de Melo, pertinho do estádio do Vasco da Gama. Talvez, ela proximidade da casa vascaína e de tanto ouvir os gritos da torcida, passou a, também, torcer para a “Turmar da Colina”, a quem, sempre, dava uma ajudinha.

Seu Açaite, as vezes, quando estava por aqui, até comparecia às arquibancadas de São Januário, ajudando a rapaziada a chingar pernas-de-pau como o português Lito, o ponta-direita William Barbio, que não sabia chutar uma bola ao gol, e os goleiros Caetano, Alessandro e Tadik. A galera o apelidou por “BomMau”, porque bom e mau eram palavras de sempre, quando o time atacava ou defendia. Não falava nenhuma outra mais.

Um dia, BomMau ficou retado da vida, porque o Vasco andou pisando demasiadamente na bola. E teve uma ideia maluca: sumir com os perns-de-pau deste plano e trazer de volta grandes heróis do passado e que já haviam passado desta para uma melhor, como ouvia muita gente falar por aqui.

Fez uma lista e, entre os que pensou em sumir com eles, estavam os cinco já citados acima, mas ponderou que todos eles ainda eram jovens e ele não deveria misturar ódio desportivo com outras coisas. E os livrou do seu plano sádico.

BomMau apressou-se, então, em fazer acontecer o seu outro pensamento. Mas, de repente, mudou de planos. Em vez de trazer gente para resolver o Vasco na bola, decidiu buscar quem havia pisado nela por aqui. Pra consertar a parada e ficar bem com a sua  história neste plano. Voltou a Quiscixára, viajou como Seu Açaite e, sem perder tempo, contatou Ademir Marques de Menezes, o terceiro maior goleador da história vascaína, com 301 tentos, em 429 refregas.

- Seguinte, Queixada: até hoje você é criticado, sempre que um livro sobre histórias do Vasco é lançado, pelo pênalti perdido, defendido por Castilho, no dia 20 de setembro de 1952, quando o “Almirante” deixou de ser campeão carioca, por causa daquela sua perna-de-pau. Vamos arrumar isso?

- Mas como, Seu Açaite? Passou, passou, não tem mais como mudar o que aconteceu.

- Tem, sim! Dou um jeito nisso. Sou um espírito muito invocado pelo Dono do Tempo e ele  tem vários favores em minha conta. Bote vários nisso. Então, vamos nessa?

- Se é assim, não há porque não ir. Já fui!

Ademir reencarnou-se no dia 21 de setembro de 1952,  quando o Campeonato Carioca chegava à quinta rodada do primeiro turno. Antes de os dois irem paras o jogo, Seu Açaite o indagou:

- Quantas cobranças de penalidade máxima você já perdeu?

- Nunca contei, mas todo jogador perde pênlti.

- Meu amigo, não é cobrança de pênalti, mas de tiro livre direto.

- Conhecer alguém que fala assim? Mas tudo bem!

- Quando eu era moleque, antes de ser juvenil do Sport Recife, num jogo entre a minha rua e uma vizinha, perdemos quatro, todos nosegundo tempo. Um bateu na trave e os outros foram pra fora.

- Você jogava, então, por um time de manés,ois a Matemática calcula, em 0,16%, a probabilidade de quatro pênaltis serem perdidos em um mesmo jogo.

- Pois perdemos.

-Veja se, então, capricha agora. A área de uma trave tem 17,86 metros quadrados. Tomando por ponto de partida a marca fatal, fazer a bola passar pelo goleiro e aninhar no fundo da rede equivale a acertar, com uma moeda de 10 centavos, duas folhas de papel-ofício, colocadas uma ao lado da outra, a um metro de distância. Se você chuta-la para o canto superior direito, ou o esquerdo, a um velocidade de 80 quilômetros horários, será, praticamente, zero, a probabilidade de não mandar o Castilho busca-la no filó.

- Só que eu não tenho velocímetro pra dar quilometragem à bola, né meu amigo?

- Isso você calcula pela força que vai botar no chulé, seu mané. E vamos deixar de muita conversa e irmos ao que interesa. Foi pra isso que baixamos no Quisce-Xhára, não foi?

Ademir vinha com a média de um gol por partida naquele Estadual carioca, só não tendo executado goleiros em Vasco 2 x 1 Canto do Rio. Marcara  nos 5 x 2 Madureira (1), nos  5 x 2 Bonsucesso (2) e nos 6 x 2 Bangu (1).

E rola a bola. O clássico estava duríssimo, quando o árbitro Mário Vianna viu o Fluminense cometendo um pênalti. O treinador Gentil Cardoso mandou que Ademir batesse, já que tinha a fama de fatura certa no caderninho. Ele pegou a pelotda, ajeitou-a na marca fatal, olhou para trás do gol defendido por Castillho e viu Seu Açaite piscando-lhe o olho direito. Do túnel, escutou Gentil Cardoso gritando:

-  Sou mais você, conterrâneo!

Ademir olhou por todo o anel das arquibandadas do Maracanã e viu milhares de pagantes esperando pelo seu chute. Autorizado, correu para a ‘maricota’ e mandou uma sapatada tão venenossa, que Castilho nem teve tempo de ver o pouso da redonda no barbante. Em seguida, saiu em disparada, comemorando, mas não viu pelo gramado Moacir Barbosa, Augusto da Costa, Haroldo de Castro, Ely do Amparo, Jorge Sacramento, Edmur Ribeiro, Ipojucan e nem Chico Aramburo. Só via Gentil Cardoso comemorando o tento.

Quando Mário Vianna deu a pugna por encerrada, Ademir colocou as mãos na cintura, olhou para seu lado direito e viu Seu Açaite, de uma das laterais do gramado, batendo palmas.

- Muito bem! Muito bem, cabra da peste! Não lhe falei que eu lhe ajudava a dar um jeito nisso? Você está redimido. Em todos os jornais de amanhã sairá a foto do seu gol.

- Mas isso é verdade, mesmo? Ainda não estou acreditando.

- Ora, Queixada! Não lhe falei que sou amigo do Donodo Tempo? Não bota fé na minha patota? Pois compraremos o Jornal dos Sports, amanhã, pra você crer.

- Beleza!

- Veja que você está falando até na linguagem desta época. Não acha isso, também, chocante?

- Acho!

- Então, missão cumpridas, história mudade, vamos nessa – e foram, levando o jornal que tinha no placar da rodada Vasco 1 x 1 Fluminense – os vascaínos voltariam a empatar com os tricolores, 2 x 2, em  11 de janeiro já de 1953,  com a disputa invadindo a temporada seguinte, e ficaram no 1 x 1, também, com o Botafogo. No mais, bateram todo mundo e carregaram o caneco pra São Januário.

 

2 - Há tempos que o alagono Ipojucan Lins de Araújo, que tivera vida terrena,  entre 3 de junho de 1926 a 19 de junho de 1978  - campeão carioca-1945194719491950 e 1952, além do Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões-1948 e dos torneios  quadrangular Internacional do Rio de Janeiro e Internacional de Santiago do Chile, todos em 1953, não se encontrava com Seu Açaite. Vascaíno, de 1938 a 1954, com 413 jogos disputados e 225 gols marcados, ele ficou chocado com a proposta recebida do espírito amigo.

- Indecorosa, meu cháplia. Ah! Aquele parrappá foi há mais de meio-século. Eu nem me lembrava mais disso. Passou, passou. Não tem sentido mexer com isso.

- O quê? Um homão do seu tamanho, com 1m86cm de altura, levar tapa na cara, de um  sujeito barrigudo, como o Flávio Costa, e deixar pra lá, pra eternidade! Nem pensar! Nas Alagoas, “A Terra dos Marechais”, só tem cabra macho. Ou você vai envergonhar o Deodoro da Fonseca e o Floriano Peixoto?

- Meu querido Seu Açaite. Naquela noite, eu estava fora de mim, surtado. Não sei o que aconteceu. Nem mesmo lembro se levei uns trompaços do Flávio Costa. Li isso nos jornais, mas não me lembro de nada, mesmo. Aliás, saiu, também, no jornal, que o Heleno de Freitas  levara uns tabefes do homem, antes de mim.

- Se você quiser, pra se animar, eu chamo o Heleno, também, pra esse acerto de contas.

Seu Açaite convenceu os dois a se vingarem de Flávio Costa e, mais uma vez, o seu amigo Dono do Tempo quebrou-lhe o galho. Eles baxaram no Terreiro Quiscexára e depois de materializados cruzaram com o treinador chegando em São Januário, para dirigir um treino, em 1948.

O cara nem teve tempo tempo de se proteger, ou de correr. Levou porrada por todos os lados. Serpreendentmete, de repente, Flávio Costa parou o seu carro e desceu diante do portãde entrada da sede da Rua General Almério de Moura. Vinha chegando. Entrou rápido no estádio, para não se atrasar para o treino.  Heleno e Ipojucan ficaram extáticos, Hviam batido no cara errado, um “mané” confundido com o treinador.

- Mas vocês são uns incompetentes. Vieram bater num e baterm noutro! Queimei cartucho com o Dono do Tempo pra vocês pisarem na bola! - Seu Açaite madava a bronca em Heleno de Freitas e em Ipojucan, quando, de repente, ouviu-se a sirene da polícia. O agredido fora atrás dos “home”, dar queixas.

- Vamos nessa, rapaziada – gritou Seu Açaite, se mandando a toda velocidade, com os dois acompanhantes. Durante a subida do Terreiro Quiscexára, ele foi claro:

- Chance, lhes dei. Não sei se lhes arrumarei uma outra, seus incompetildos.

- Incompetildos? – Protestou Heleno.

- Este é um termo criado pelo desenhista Danilo Russo Amorim, amigo do Ziraldo, para os pisões, como vocês.

- Não fique bravo, Seu Açaite. Façamos de conta que foi um pênalti chutado pra fora. O Queixada não chutou um, que o Castilho defendeu?

- Enganam-se vocês. Já arrumei esse trampo e o Queixade encaçapou a maricota.

- Parabéns pra ele.

- Em todo o caso, vou pensar se devo pensar em dar-lhes uma segunda chance, seus pisões. Seu Açaite pensou, pensou e intuiu que Flávio Costa não deveria levar porrada, por ter sido um vascaíno que ajudara o “Almirnate” a ser campeão de clubes cmpeões sul-americano-1948; dos torneios Municipal do Rio de Janeiro-1947; Início-1948; Octogonal Rivadávia Corrêda Meyer e Internacional do Rio deJaneiro-1953, e dos Campeonatos Carioca-1947, 1949, 1950 e 1952. Terminou esquecendo-se daquilo, sobretudo  porque no outro plano Flávio Costa, Heleno de Freitas e Ipojucan eram grandes amigos.

PARADINHA ÀS 20H45 DE 19.03.19

RETOMADA ÀS 08H42 DE 20.02.19

 

3 – Por esta, seguramente, Sabará não esperava: a visita de Seu Açaite. E com uma proposta sensacional.

- Quer dançar o Carnaval na Avenida Sapucaí? O desfile das escolas de samba estão sendo o maior espetáculo da terra. Você não teve isso, em seu tempo, mas tem que conhecer. O meu amigo Sabará, maior carnavalesco do mundo, não pode desconhecer este barato.

- Pelo que você fala...!

- Então, prepare-se.

- Mas como posso voltar ao Carnaval do Rio de Janeiro, se já sou alma do outro mundo?

- Deixe comigo.  A materialização é por minha conta. Tenhos os meus trampos. Vou armar pra você desfilar na escola de samba que prestou homenagem ao seu amigo Nílton Santos, que dizia só ter respeitado um ponta-direita, você. Olhe que o homem foi eleito pela FIFA o melhor lateral-esquerdo da história do futebol.

- Mas como isso é possível?

- Já falei? Deixe comigo!

Sabará, vivente entre 18 de junho de 1931 e 8 de outubro de 1997, paulista, registrado e batizado por Onophre Anacleto de Souza, chegou à Sapucaí e deslumbrou-se com o que viu. Ficou extasiado, extático. Foi preciso Seu Açaite mandar-lhe um beliscão, para acorda-lo. Nunca havia visto mulherões tão generosas em suas indumentárias carnavalescas.

Vascaíno, de 1952 a 1964, Sabrá não falva a palavra espírito. Se a sua língua não dava, ou era pura sacanagem, ele só pronunciava “sprito”. E tome-lhe colegas gritando “burraldo” pra ele, que nemn ligava. Fazia era entrarmuito mais na “saca”.  As vezes, quando um companheiro sinalisava que o iria lançar,  pra disparar no ataque e centrar bola para Ademir,  gritava:

- Lá vai, sprito!

Campeão carioca-1945194719491950 e 1952; do Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões-1948, e dos torneios octogonal Rivadavia Corrêda Meyer; quadrangular internacional do Rio de Janeiro; interniconal de Santiago do Chile-1953, e do Rio-São Paulo-1958, ele era, ainda, um campeão na dança do samba. Insuperável!

Mais do que deslumbrado com o que via na Sapucaí, Sabará meteu o pé no samba e tocou cuíca e tamborim, durante o desfile da Vila Isabel, em 2002, quando o tema foi “O Glorioso Nílton Santos, Sua Vida, Nossa Vila”. Quem estava nas arqauibancadas, só preguntava:

- Quem é aquele sujeito elétrico?

Terminado o desfile, Nílton Santos foi até Sabará, abraçou-lhe e disse:

- Rapaz, você estraçalhou no samba. Ainda bem que foi longe do Maracanã. Se fosse em campo, naqueles tempos de Vasco x Botafogo, eu estaria frito.

Sabará voltou ao Terreiro Quisce- Xhára, já pedindo ao Seu Açaite pra estar presente no no Carnaval seguinte.

 Ao chegarem na outra dimensão, Seu Açaite sussurrou: Tirante a bola fora daqueles dois pisões, está 2 x 1 pra mim. De bom tamanho! Terei, agora, um lance da pesada, mas ganho esta, também. E armou o esquema tático para Cyro Aranha ajudar a derrubar o ditador Oliveira Salazar.

 

4 – Gaúcho, de Alegrete, nascido em 15 de abril de 1901, Cyro Aranha era irmão de Osvaldo, um dos caras que ajudaram Getúlio Vargas a tomar opoder, em 1930 e que fora, também, ministro de Estado. Um outro seu irmnão, Luís, também fora político.

Presidente do Vasco da Gama, por seis temporadas, fez parte, ainda,  de diretorias da Federação Metropolitana de Futebol (atual Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro)  e do Jóquei Clube Brasileiro. Esteve chefe de várias delegações da Confederação Brasileira de Desportos (hoje, Confederação Brasileira de Futebol), participou do Conselho Nacional de Desportos e vice-presidiu a Sociedade Hípica Brasileira. Gauchão bom de jogo político na cintura, ele concordou, com Seu Açaite, que hvia pisado na bola, com uma tremenda puxada de saco no Salazar. E topou, sem muita conversa, rearar o erro.

- Até lhe agradeço, amigo. Naquele tempo, estava tudo certo. Mas, como os tempos filosóficos mudaram e não havia este tal de politicamente corredo, vamos arrumar a coisa, não fica bem vascaíno ir para o além, chutando pênalti com a bola indo bater lá bandeirinha de córner. Aliás, é até bom eu dar uma voltimha pela vida terrana, onde não apareço desde  17 de julho de 1985.

- Então, vamos nessa, gaúcho.

Cyro Aranha foi o presidente que entregou ao ao Vasco da Gama o quase invencível “Expresso da Vitória”, que rolou pelos trilhos do sucesso entre 1945 e 1952. Sob a sua batuta, a “Turma da Colina” conquistou estes títulos:  1942-Torneio Início (?); 1944 -Torneios Início, Relâmpago e Municipal; 1946- Torneios Relâmpago e Municipal; 1947- Campeonato Carioca de futebol e de remo e do Torneio Municipal; 1948-Torneio Início e Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões; 1952-Campeonato Carioca (terra e mar) e 1953-  Quadrangular Internacional do Rio de Janeiro; Octogonal Rivadávia Corrêa Meyer e Torneio Internacional do Chile.

Antes de partirem, Cyro ponderou com Seu Açaite:

- Seguinte: Salazar, em 1933, criou o seu Estado Novo, xará das armações políticas do  meu amigo Getúlio Vargas, que muito ajudou ao glorioso Club de Regatas Vasco da Gama, inclusive, para trazer Isaías, Lelé e Jair Rosa Pinto pra Colina. Se ele não tivesse dado uma prensa no bicheiro do Madureira, a barra iriaa pesar  na boca do cofre do “Almirante” e, talvez, aqueles três patetas fossem pra um outro clube. Só acho uma coisa, Seu Açaite.

- Manda!

- Eu não preciso participar de derrubada do Salazar, porque no tempo em que ele ditava ordens em Portugal, eu ditava títulos no futebol carioca. O Vasco ganhava tudo. Se eu tivesse ficado fora de São Januário, os nossos adversários fariam a festa. Então, como você diz que o Dono do Tempo vai intervir na questão, deixemos este período de 1942 a 1952 só comigo na Colina.

- Tudo bem! Baixaremos, então, em 1968, quando você o derrubará.

- Não preciso derruba-lo, pois ele se derrubará de uma cadeira, que o levará para a.....

- Calma, Cyro. Não precisa exceder no vernáculo politicamente incorreto, tchê!

- Barbaridade! Saí do sério.

- Façamos, então,  o seguinte, tchê:  o salazarismo foi sequenciado por Marcelo Caetano, até ser derrubado pela Revolução dos Cravos Vermelhos, em 25 de abril de 1974. Você não tem nada a ver com essa patota, pois o seu lance zero vascaíno foi tabelando com o Salazar. Então, façamos o seguinte: chegamos um dia antes e você o oferece a cadeira da qual ele irá cair da cadeira e ir pra....

- Bá, tchê! Agora és tu se aprontando para dar um coice no vernáculo?

- Foi mal, foi mal!

- Tudo bem, tudo bem!

- Sabe deuma coisa, tchê? Não vamos mais perder tempo com ditador que já era, tenho coisa mais importante a tratar.

- O quê?

- Fazer o Barbosa agarrar aquela bola chutada pelo Ghiggia, no 16 de julho de 1950, no Maracanã.

- Grande lance, tchê! Grande lance! Tens o meu apoio.

Quando deixavam Lisboa, o presidente Cyro Aranha e Seu Açaite ainda viram pelas ruas da capital portuguesa os capitães que fizeram o Movimento das Forças Armadas que derrubou o salazarismo. Cyro, irmãos de políticos aliados a Getúlio Vargas, chamoluum desses capitãse pr conversar e ouviu dele:

- O nosso movimento começou em 1973, com reivindicações corporativistas e exigindo prestígio para a nossa repaziada. O nosso poderio era pequeno, para encarar o salazaraismo, mas houve adesão em massa do povo e não deu para o regime nos encarar. Estamos aí, com uma Junta de Salvação Nacional.

- Posso dar-lhe uma ideia?

- Pois, pois, porque não?

- O general Antônio de Spínola é um bom nome para ser o seu presidente da República e o Adelino da Palma Carlos ótimo para primeiro-ministro.

- Pôis, pois, oh gajo! Prece que advinhasou o nosso pensamento – naquele momento, enquanto o capitão olhava para um dos lados das rua, Cyro e Seu Açaite desaparecerm e foram se reespiritualizar no Terreiro KicesXára, de onde partiram, o mais rápido possível, dando a causa por resolvida.

 

5 -  Seu Açaite encontrou-se, lá em seu plano espiritual, com um amigo muito invocado pelos terrenos, Creolindo Tapaciguara, muito respeitado pelo Nordeste e por Minas Gerais. E recebeu um pedido dele:

 - Estou com um grande número de chamadas lá da Bahia, ao mesmo tempo em que estou precisando de umas descidas em Belo Horizonte. Estão me cobrando. Então, quero fazer-lhe um pedido, para devolver-lhe o obséquio depois. Você teria tempo de atender aos meus chegdos em Beagá, enquanto eu desço a Bahia?

- Creio que sim, pois a minha agenda tem se desenrolado legal. Só tenho um  “perrepes” pra correr atrás, do qual vou precisar, mis uma vez, da colaboração do Dono do Tempo, o que sempre rola. Deixe eu falar com ele, pra confirmar contigo.

- Fico aguardando.

Enquanto Creolindo Tapaciguara aguardava retorno, Seu Açaite chamou Sabará e disse-lhe:

- Ô “jabuticaba”, preciso de uma grande colaboração sua.

- Pida!

- O seguinte: o nosso goleiro não pode levar gol, nem em pesadelo. Vou passar as coordenadas para o meu amigo Dono do Tempo e, depois, mais dados pra você amarrar tudo com ele e seguir.  

- Xá comigo!

- Você já foi ao Carnaval da Sapúcaí, agora viverá missão mais arrojadas. Terá de ficar atrás da baliza defendida pelo nosso time, no Maracanã, para alertar o nosso goleiro contra os perigos reais iminentes e imediatos que vão lhe rondar. Por ora, fiquemos nisso. Aguarde os detalhes finais.

- Aguardarei.

Alguns dias depois Sabará trocou os últimos leros com o Dono do Tempo e “ressaiu” do plano espiritual em que orbitava, desde 1997 – deixara 165 gols vascaínos – Roberto Dinamite (702), Romário (326), Ademir Menezes (301), Pinga (256), Russinho e Ipojucan (225) e Vavá (191) ganham esta corrida -,  e partiu, como enviado especial, para ajudar um goleiro a não levar gol.      

 Enquato o antigo ponta-direita vascaíno voltava ao Rio de Janeiro, o Seu Açaite ia a um terreiro de Belo Horizonte, como estava combinado com o seu amigo Creolindo Tapacigura. Na véspera de ele baixar no recinto, um casal de namoradossaí do Cine Guarani, na Avenida Afonso Pena, onde ela propôs:

- Topa a gente ir, amanhã, a um terreiro espírita?

- O quê? E desde quando judeu vai a centro espírita?

- Sou  filha de judeus, mas nasci carioca e passo férias na Bahia. Estou em todas. Não me fecho.

- Engraçado! Pois eu sou baiano e nunca fui a um centro espírita.

- Então, vamos - e fui conhecer o barato por lá.

Quando a sessão terminava e Seu Açaite já se despedia da moça, pometendo voltar no dia seguinte, pedi-lhe um aparte, concedido.

- Tem como eu apagar algo de minna mente?

- Vamos ver do que se tratas.

- Na tarde do domingo 2 de março de 1961, o  Flamengo venceu o Vasco da Gama, o meu time, por 2 x 1, no Maracanã, valendo pelo Torneio Rio-São Paulo. Eu havia passado toda a semana esperando por aquele jogo, na certeza de que a “Turma da Colina” o venceria. Até abriu o placar, pelo centroavante Delém, aos 24 minutos. Pen que o meia Gérson de Oliveira Nunes, aos 42, e o nanico ponta-esquerda cearense Babá, isto é, Mário Braga Gadelha, aos 60, mandaram o árbitro José Monteiro recolocar a bola no centro do gramado, para nova saída de jogo. Viraram a história. Foi o pior dia da minha vida, isto é, a pior noite, pois a decepção mais forte veio mais tarde. Não consigo esquecer daquele vexame. Tem como o senhor acabar com isso?

 - Já tratei de caso parecido. Creio que posso lhe ajduar, também. Você virá à sessão de amanhã?   

- Se for preciso, virei.

- Conversaremos mais amanhã e veremos o que farei.

- Combinado.

 

6 – Sabará chegou ao Rio de Janeiro na véspera do jogo entre as seleções brasileira e paraguaia, pelas Eliminatórias das Copa do Mundo de 1954. Aproveitou para fazer um rolé noturno pela Barra da Tijuca e encontrou-se com Gervásio Bastista, fotógrafo da revista O Cruzeiro.

-  Jabuticaba! Você por aqui! Há quanto tempo, seu safado? Onde você se meteu?

- Estou em umas paradas diferentes por aí.

- E, evidentemente, mal intecionado por aqui, de olho no mulherio!

- Nem tanto! Só estou mesmo batendo pernas pra ver se encontro alguns velhos amigos.

- Alguns velhos amigos? Hummm! Uns amiguinhos!Tô sacando, negão.

- Negão é o seu passado, baiano marcha lenta.

- Quem diria, hem Jabuticaba? Procurando uns amiguinhos! Depois de véi?

- Qual é, Gervásio. Tá me desconhecendo?

- Desconhecendo? Tô é lhe reconhecendo – e caiu na risada, abraçou Sabará e sacanearam-se mais um pouco, até se despedirem.  

 - Estarei , amanhã, no “Maraca”. Você vai?

- Se aqueles veados do Departamento de Fotogarafia não me sacanearam, não me derem pauta escrota, espero estar lá fotografando e assistindo a classificação do Brasil para a Copa do Mundo da Suiça.

- Espero, então, que a gente se cruze por lá.

 

7 – Durante as suas 12 temporadas como atleta do Vasco da Gama (foi da Seleção Brasileira, também), o atacante Sabará jamais vira tanto interesse por uma partida de futebol como por aquela do dia 7 de março de 1954, entre Brasil e Paraguai, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Carros com placas de localidades as mais distantes do do Rio de Janeiro, como  Mato Grosso, Bahia  Rio Grande do Sul tinham gente dormindo dentro deles e até em cima dos capôs. Ao redor do Maracanã, às três da manhã já havia gente na fila para comprar ingressos, que deveriam começar a ser vendidos a partir das nove, em vários pontos da cidade.  

  Sabará jamais vira, também, o Maracanã recebendo 195.514 desportistas, o maior público pagante da história da casa. Ele havia enfrentado o Flamego, por várias vezes, com casa quase cheia, mas, daquele jeito, espantava-se.

  Os paraguaios eram os campeões sul-americanos e os brasileiros queriam chegar à Suiça, pra se redimirem do vexame de 1950, quando perderam a Copa do Mundo, ante os uruguaios, no mesmo estádio. Domingaço, ensolaradaço, carioquíssimo, o juiz francês Rymond Vicenti apitou início de jogo, com os nacionais usando camisas camarelas, com golas azuis e frisos nas mangas, na mesma cor. Os meiões tinham branco e frisos azuis.  Destoando, engraçadamente, só o treinador Zezé Moreiera usando uma camisa listrada, horizontalmente, em branco e branco, parecida com aquelas muito usadas por sambistas durante desfiles de blocos carnavalescos.

 E rolou a bola. O Brasil abriu o placar, aos 59 minutos, por Julinho Botelho. Baltazar fez o segundo, aos 62. Os paraguaios diminuíram, aos 75, mas Julinho voltou a marcar, aos 83. E Maurinho fechou a conta, aos 90.  Goleada e muitos aplausos para Veludo; Djalma Santos, Gerson dos Santos, Bauer, o capitão, Brandãozinho e Nílton Santos; Julinho, Didi, Humberto Tozzi (Pinga) Baltazar e Maurinho. Para a revistsa O Cruzeiro,  aquele fora “O 16 de julho dos paraguaios”, por terem passado pelo vexame que lhes deixou fora da Copa do Mundo.

 Sabará não fez nada do que o Seu Açaite lhe recomendara. Só assitiu ao jogo e vibrou com cada gol e a goleada. Na segunda-feira, o amigo chegou ao Rio de Janeiro e, o indagar-lhe sobre o sucesso da missão, levou um espanto ao ser informdo.

- Sabará, você fez o jogo errado. Não era em 1954, mas em 1950. E quem não deveria levar gol seria o seu velho companheiro vascaíno Barbosa, e não Veludo. Você não prestou atenção direito no que lhe falei e passou informação errada para o Dono do Tempo. Vou te contar, Jabuticaba!

 

8 -  Seu Açaite sentia-se cansado por tantas atividades nos últimos tempos. Decidiu negociar uma descansada e deixar o caso de Barbosa para uma outra oportunidade. Logo depois de acertar tudo com os espíritos superiores, ele desceu para o Rio de Janeiro de 2011. Curtiu praias, bebeu chopinhos e foi a vários ensaios de escolas de samba. E muito mais.

 Perto de terminar o seu período de descanso, Seu Açaite desejou visitar o Colégio Pedro II, em São Cristóvão, onde estudara, e o fez em uma das ensolaradas manhãs cariocas. Antes não tivesse ido. Sentiu-se injuriado por ver uma placa escrito Direção Geral e homenageando o almirante Augusto Rademaker, que vivera até 1985.  

 Militar de perfil prussiano, Rademaker teve participação ativa no golpe que implantou a Ditadura de 1964, no Brasil. Em 1968, como ministro da Marinha, participou de um golpe dentro do golpe, juntando-se aos seus colegas da Aeronáutica, brigadeiro Márcio de Souza Melo, e do Exército, general Lira Tavares, para impedir a posse do vice-presidente Pedro Aleixo, em lugr do presdidente Costa e Silva, que sofrera gravíssimo problema de saúde.

 Após o fim da junta militar, o governo caiu nas mãos do presidente Garrastazu Medici, com Rademaker sendo o seu vice. Entre 1969 e 1974, foi o período mais violento da Ditadura, que torturou e matou alunos do Pedro II, discordantes do regime dos generais-presidentes.

 Seu Açaite voltou ao seu plano disposto a partir para uma briga terrena. Explicou tudo o seu amigo Dono do Tempo e, por acaso, ao cruzar com Mário Trigo, primeiro dentista da Seleção Brasileira, perguntou-lhe pelo almirante Heleno Nunes.

- Temos nos encontrado muito.

- Estou querendo falar-lhe.

- Vou avisa-lo e pedir-lhe que entre em contato contigo.

Sem demora, o encontro se deu. Seu Açaite propôs-lhe descer no Terreiro Kisce-Xhára e ir a São Cristóvão, banir o nome de Rademaker do Colégio Pedro II.

- Sei que você, meu caro Heleno, conviveu com a Ditadura, teve irmão no Governo, mas nunca concordou com o “inconcordável”. Levo em conta que você foi um dos baluartes de diretorias do Vasco da Gama. Conto contigo neste  mister?

- Não só com o almirante, mas comigo, também – atalhou Mário Trigo.

- Não temos como recusar, né Mário? Afinal, a democracia no futebol brasileiro foi patrocinada pelo Vasco da Gama, que enfrentou todos os tipos de perseguição e violência moral para se abrir ao povo.

 Surpreendentemente apressado, o almirante Heleno de Barros Nunes embarcou de volta à vida terrena, pela qual passara entre 1917 e 1984. Nõ só viajou, como empenhou-se muito para marcar um gol, como Roberto Dinamite naquele jogo em que o atacante vascaíno mandou a pelota para o barante da Áustria, classificando o Brasil para a segunda fase da Copa do Mundo-1978. Conversou com todos os membros das congregação que  administrava o Colégio Pedro II e conseguiu sucesso absoluto em sua missão, fechada no 19 de abril de 2011. De quebra, esticou uma passadinha por São Januário, a fim de matar as saudades dos velhos tempos em que frequentava a Colina. Até assistiu ao treinamento do dia da visita, dizendo-se saudoso do Dinamite, que ele ordenra a escalação, ao treinador Cláudio Coutinho, na terceira rodada da fase clssdificatória do Mundial argentino, porque o ataque da Seleção Brasileira vinha tropeçando no gramado de Mar del Plata.     

 Inclusive, diziam que o vascainismo do almirante Heleno Nunes era tão grande que, ao sair da ativa, ele ia para a frente da sede de São Januário ajudar o presidente Manoel Joaquim Lopes a vender pimentão, para juntar grana e contratar reforços para o clube. Por sinal, dizem, também, que a dupla até arrumou encrenca com um português que vendia verduras, secos e molhados pelas proximidades das bilheterias do estádio.  

PARADINHA ÀS 21H15 DE 21.03.19

RETOMADA ÀS 08H45 DE 22.03.19

     

9 – Camilo Pontes D´Ávila era o nome de registro e de batismo do Seu Açaite.  Garoto muito bem educado e muito católico, ele chegou ao Brasil, aos 10 de idade, trazendo um sotacão típico da região de Cascais, onde vinha sendo criado. Aos 12, começou a revelar  sua mediunidade e, aos 13, passou a ajudar ao pai em um armazém de secos e molhados. Como a palavra azeite ele só falava “açaite”, terminou ganhando um apelido.

 Por volta dos 26, quando já era um dos mais famosos médiuns de Madureira, onde a sua família morava, ele passou a ser chamado por Seu Açaite, que o acompanhou por estas e a sua outra vida.               

 Após a bola fora de Sabará, que trocou 1950 por 19534, Seu Açaite aproveitou uma descida em um centro espírita que vinha pedindo muito a sua presença, em Bacaxá, e foi convidado pela rapaziada a passar o domingo em uma agremiação chamda Clube da Faixa. Aceitou e ouviu muitas queixas da oposição ao presidente, pintado por terrível mau elemento, ditador, manipulador da diretoria.

 Chocado com o que ouvira, Seu Açaite lembrou dos tempos em que ele era chamado por “BomMau” e que tinha, também, um lado mau para coloca-lo emação quando a situação pedisse. E foi o que decidiu fazer.

- É ele! – lhe apontaram  o sujeito.

Seu Açaite preparou um charuto com farinha de dinamite, foi até o sujeito, o agarrou pelo colarinho e acendeu um isqueiro. Com o objeto fumegante, o enfiou no rabo da criatura e desferiu-lhe termendo chute no trazeiro, que o tal saiu vando para explodir quando estava pela altura do meio do gramdo. Todos apludiram, até a situação, que sentiu-se desafogada das pressões do homem, que a mantinha sob o seu cabresto, coma rabo preso e não ousava desafia-lo.

 Segundo afirmava a oposição, o homem dividira, com os amigos encabrestados, a grana da venda do passe de vários jogadores, com tudo aprovado pelo Conselho Deliberativo. Citavam atletas que faziam sucesso pelos italianos Lanerossi e Atalanta; o húngaro Ferencvaros; o português Benfica e os inglês Blackpool e Blackburn Rovers.

 Escravatura abolida no clube, pelo final do churrasco, quando todos já hviam ido embora, Seu Açaite estava sozinho, contemplando o gramado, quando aproximou-se dele um português barrigudo, barba por fazer e cabelos já falhando.

- Quer comprar pão, amigo? O meu pão é o melhor desta cidade.

- Ainda bem que não sou mais desse mundo.

- Nesse e no outro mundo, garanto, não se encontra um pão melhor do que o do portuga, garanto, oh gajo!

Seu Açaite, que já havia deixado o seu lado mau e já estav pronto para retornar `sua dimensão usndo o se lado bom, pensou: “Eu me virabndo para mudar a história, arrumar as coisas para os meus amigos,podendo até ganhar o Prêmio Noibl de Física, e me chega um português pra me vender pão”. E exclamou:

- Pão ta que pão riu!

FINAL às 9H42 DE 22.03.2019 (sexta-feira)