Vasco

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

COMANDANTE DE ESQUADRAS - MARTIM FRANCISCO (2), O CAMPEÃO CARIOCA-1956

 Em 1957, Martim Francisco comandou a mais brilhante excursão cruzmaltina por gramados europeus. O giro começou pelo continente centro-americano, em Curaçao, vencendo o Willmestad, por 2 x 1. Cinco dias depois, a turma foi aos Estados Unidos, espatifar o Hakoah, em Nova York-EUA: 6 x 1. Só  então o rolo compressor rolou pelo "Velho Mundo". A rapaziada foi mostrar como se esbagaçava, primeiramente, durante o Tornei de Paris, concedido para ser a grande referência das competições internacionais. Se ainda não havia mundiais interclubes, aquele, com certeza, o seria.
  Os franceses esperavam tirar o chapéu para o bicampeão europeu Real Madrid, que deslumbrara seu continente pelas temporadas 1955/56 e 1956/57. O anfitrião, o Racing Clube de Paris, um dos melhores times da França, e o campeão alemão-1955, o Rot-Weeiss Essen, não deveriam ser problemas para os espanhóis. E nem o Vasco, único clube sul-americano a conseguir vencê-los. Seria pouco provável, imaginavam os torcedores franceses.
A primeira rodada foi em 12 de junho. E bastou o primeiro tempo para a torcida presente ao Parc des Princes aplaudir os vascaínos. Por sinal, se eles caprichassem mais, não teriam ficado só no gol marcado por Livinho,m naquela etapa.  Mas chegaram aos 3 x 0, entre os 13 e os 22 minutos da fase final, com Pinga e Vavá carimbando o barbante parisiense. E o anfitrião foi batido, sem problemas: 3 x 1.  Mais sem problemas ainda, o Real Madrid mandara 5 x 0 pra cima dos alemães. Di Stefano, Kopa, Gento, Santamaria e toda a ttrupe fez o que dela se esprava. Até então, Válter Marciano, Ortunho, Sabará, aquela turma vinda dos trópicos, mesmo com um show de bola contra os donos da casa, continuava simples ilustre desconhecida. Até  a noite do grande 14 de julho de 1957, quando colocou o adversário favorito na roda.
AVISO DO PROFESSOR - Nas arquibancadas, a torcida francesa aguardava por mais um show merengue. No vestiário vascaíno, Martim Francisco chamou a moçada para um novo plá. E lembrou:
- Vocês ganharam deles, no ano passado (na Venezuela).  Dá pra ganhar de novo? Claro que dá. Eles viram do que vocês são capazes. Nada de medo, pois o medo que vocês terão deles será o mesmo que eles terão de vocês. A turma deles pode ser boa pras cabrochas deles. Pra cima da gente, não. Não mesmo! Quero time chegando primeiro, em todas as bolas. E partindo pra matar. O Vasco tem que ser mais Vasco. Só isso!
O Real pintou no gramado aplaudidíssimo. Levava Alonso, Torres e Marquitos; Lesmes e Muñoz; Ruiz e Mateos; Kopa, Di Stefano, Rial e Gento – depois  entraram Santamaria, em lugar de Marquitos, e Marshall, substituindo Rial. Martim Francisco alinhou a sua equipe com: Carlos Alberto Cavalheiro, Dario, Viana e Orlando Peçanha; Laerte e Válter; Sabará, Livinho, Vavá e Pinga. O time espanhol começou a sua festa nas redes vascaínas aos quatro minutos de bola rolando. Viana bobeou e Di Stefano encaçapou: 1 x 0. De repente, uma surpresa: o Vasco passou a dominar. Aos 20 minutos, Dario serviu Ortunho, que lançou Pinga, que foi à linha de fundo e cruzou para trás, onde estava Válter Marciano, que igualou o placar: 1 x 1. Passados mais 12 minutos, Pinga voltou a aprontar. Da esquerda, lançou Vavá, dentro da área. E o pernambucano desempatou: 2 x 1. E o Vasco passou a ganhar a preferência da torcida francesa.
- Tá bom, tá bom! É só manter o ritmo e a seriedade. Vamos repetir tudo no segundo tempo. O jogo tá pra gente -  foi a única impressão de Martim Francisco, no vestiário, durante o intervalo. Ele preferia deixar a turma descansar, a desgastá-la com papos desnecessários.
Mesmo com a recomendação do treinador, a zaga vascaína bobeou, no início da etapa final. Kopa lançou e Mateos empatou: 2 x 2. Pouco depois, os dois times resolveram trocar a bola pelo braço. Passaram 10 minutos na porrada, temo mais do que suficiente para o “armário” Ortunho botar todo o time espanhol pra correr. De quebra, ainda quebrar Mateos.
Serenados os ânimos, a bola votou a rolar. Aos 21 minutos, Válter Marciano mostrou  que não era deste planeta. Enfiou um passe, de curva, para Livinho encobrir o goleiro Alonso e escrever: Vasco 3 x 1. Os aplausos crescam a cada jogada bonita do time. Aos 39 minutos, Válter humilhou: 4 x 1. O Real Madrid estava desmoralizado. Além de entrar na roda, ainda apanhava na bola e no braço. Quando nada, ainda fez um gol, aos 44 minutos, caíndo, por 4 x 3.
No dia seguinte, Martim Francisco comprou o jornal “L´Équipe” e leu que “onze diabos negros tomaram conta da bola”.. e que ... “a impressão que se teve foi a de que o campeão da Europa estava aprendendo a jogar futebol”. Quando ele ia mudando de página, o zagueiro Brito encostou o rosto, para olhar, e brincou:
- O que é que fala de mim aí, chefe?
Martim Francisco brincou:
- Você jogou? Nem vi. Aliás,  nem eu e nem todo o estádio.
Depois, arrumou as coisas com seu jovem zagueiro:
- Meus parabéns. Tomou conta, direitinho, do chefe deles (se referia a Di Stefano, que Brito marcara, entrando em lugar de Viana, perto do final da partida – a outra substituição fora Joaquim Henriques, na vaga de Ortunho, por motivos “pugilísticos”.

7 -  Entre 1956 e 1958, o Vasco e o Real Madrid estiveram entre os melhores times do planeta, principalmente, o espanhol, pentacampeão europeu e tetra nacional. No início da década-1960, os cariocas já eram bem inferiores ao que haviam sido, enquanto os merengues mantinham a sua força. Eles voltariam a se enfrentar, em 8 de fevereiro de 1961, daquela vez, no Maracanã, onde o maior público, até então,  fora 199.854 (173.850), no 16 de julho da final da Copa do Mundo der 1950.
Martim apitou legal para a sua rapaziada  
Cruzmaltinos e merengues iriam para o quarto duelo, valendo o desempate, já que constava uma vitória para cada lado e uma igualdade – Real Madrid 5 x 2 e 2 x 2, e Vasco  2 x 0 e 4 x 3.  No entanto, alguns historiadores viam os visitantes na frente, por conta de um amistoso, em 31 de maio de 1956, que os vascaínos não incluíam na estatística, poque o Real, que  promovia a despedida de  Luis Molowny, convidara atletas de vários clubes e formara uma autêntica seleção, contando com Wilkes, do Valência; Kubala, do Barcelona; Collar e Migiuel, do Atlético Madrid, e o francês Kopa, que seria seu futuro craque, mas ainda defendia o Reims.
Martim Francisco voltaria a encarar o Real Madrid, em sua segunda passagem pelo Vasco. O time era o quinto colocado do Campeonato Carioca, mas seus torcedores achavam que daria pra encarar, em casa, o assombroso Real Madrid. E mais de 140 mil foram ao estádio, dos quais 122.038 pagando e proporcionando o maior público de um jogo de clubes sul-americano, até ali. Quando o árbitro argentino Juan Brozzi chamou os capitães Bellini e Gento para  sortear a saída de bola,  dezenas de fotógrafos lotavam o gramado. Nenhum, porém, conseguia fazer Di Stefano posar. O estrelismo do Real Madrid era tamanho que seus atletas nem cumprimentaram os anfitriões. Por protocolo, só os presentearam, com relógios de ouro – em troca, receberam flâmulas vascaínas.

BOLA ROLANDO - O Real tinha Del Sol e Puskas, pela meia esquerda, deixando a direita para penetrações de Vidal e Canário, que infernizava a vida de Coronel. Aos poucos, Di Stefano foi mostrando precisão nos passes, inteligência nos deslocamentos e fazendo corridas inesperadas, livrando-se dos marcadores. E distribuindo ordens. Seu treinador nem se manifestava, ao contrário do estreante técnico cruzmaltino, Martim Francisco, que gesticulava e berrava muito, segurando os suspensórios.


 Com futebol rápido e brilhante, o Real Madrid agradava. Aos 14 e aos 15 minutos, fez 2 x 0, com gols de Del Sol e Canário. Reclamando muito do calor da noite carioca, os merengues saíram para o intervalo, recebendo água mineral em suas cabeças. Para o segundo tempo, uma novidade: o árbitro usando camisa amarela, substituindo o tradicional preto total da etapa inicial, sugerido pelo "bandeirinha" Alberto da Gama Malcher – Eunápio de Queirós foi o outro – , para não ser confundido com os donos da festas.
Dada a nova saída de bola, quem esperava por uma goleada do Real Madri viu o Vasco se superar. Aos sete minutos, Casado marcou um gol contra. Aos 17, Pinga empatou, cobrando pênalti, sofrido por Delém. Depois, a torcida vaiou Di Stefano, quando ele foi substituído. E o duelo ficou 2 x 2, com o Vasco sendo: Humberto Torgado (Miguel); Paulinho de Almeida, Bellini e Coronel: Écio e Orlando; Sabará, Delém, Wilson Moreira, Lorico e Pinga (Da Silva). O Real Madrid terve: Dominguez; Marquitos (Michel), Santamaria (Zagarra) e Casado; Vidal e Pachin; Canário, Del sol, Di Stefano (Pepillo), Puskas e Gento. (fotos reproduzidas da Revista do Esporte).


8 - Para ser campeão carioca em 1956, o técnico Martim Francisco bolou um esquema diferente para os períodos de concentração. Na antevéspera da partida, o time apresentava-se às 8h30, para começar o treino uma hora depois. Após duas horas de prática, uma rápida revisão médica, com almoço programado para o meio-dia.
Com time bem treinado e descontraído, o América não foi páreo
Rango devorado, Martim levava a rapaziada para um passeio pelas proximidades, a fim de ativar a digestão. Isso rolava entre 13h e 13h30. Em seguida, uma grande novidade: visita a familiares dos jogadores, com duração de quatro horas e obedecendo a um rodízio. Às 18h, todos estavam de volta a São Januário, para o jantar, às 19h. Rolava, a seguir, um novo passeio pelas beiradas da Colina. Da 20h30 às 22h, era permitido aos concentrados jogarem sinuca, pingue-pong, xadrez, dominó, ou assistir TV, ouvir rádio ou ficar lendo.
No segundo dia de concentração, Martim Francisco só mudava o programa das 14h às 18h. Trocava a visita familiar por uma ida ao cinema e passeios a pontos pitorescos do Rio de Janeiro. Já o dia da partida começava com alvorada às 7h. O almoço saía às 10h30, seguido de um ligeira caminhada pelo estádio e a prelação sobre o que o time pegaria pela frente. Funcionou. (foto reproduzida de "Manchete Esportiva" Nº 58, de 29 de dezembro de 1956).

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