Vasco

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sábado, 6 de fevereiro de 2016

A PUBLICIDADE NAS REVISTAS ESPORTIVAS BRASILEIRAS - PUBLICAÇÕES DE CLUBES

 É antigo, da primeira metade do século 20, a prática de os clubes brasileiros lançarem boletins informativos aos associados e revistas. Começou com o papel jornal que, devido ao envelhecimento, rasga-se, hoje, ao menor toque sem muito cuidado. Eram exemplares que, as vezes apresentavam fotos até com qualidade que ainda permitem uma boa reprodução.
 Por aquela época, as agremiações já corriam atrás de anunciantes para enfrentar os custos de produção, passando os seus recados de maneira que hoje não se se encontra mais nem em classificados dos jornais. Veja, por exemplo, este da primeira  Revista do Corinthians, de 1933 (no alto à esquerda). Na década seguinte, ainda usava-se muito os anúncios com letras enquadradas, normalmente, em espaço 10cm x 05cm, mas já havia peças publicitárias avançadas, até mesmo em história em quadrinhos. O dentifrício Colgate patrocinou uma para o Nº 1 da revista Tricolor, lançada pelo São Paulo Futebol Clube em 1949. A mesma edição, que teve 33 anúncios, trouxe também produção de agência publicitária, desenhada a lápis, para a Prudência Capitalização.
Entre os primeiros parceiros da revista são-paulina, alguns já tinham o nome bem fixado no mercado, como Guaraná Champagne; Q.BOA, o alvejante que segue até hoje na agenda das donas de casa; Maizena; Maracugina, complexo vegetal para o sistema nervoso, produzido pelo Laboratório Paulistas de Biologia; Hepacholan Xavier, remédio  para o fígado; Saraiva, editora de livros; Banco Nacional Imobiliário; Fábrica de Calçados Zanetti e Companhia Textil Santa Catarina.
 
QUATRO ANOS DEPOIS, o Clube de Regatas Vasco da Gama exibia a sua revista por um papel de melhor qualidade, com espessura duas vezes maior do que o usado pelos são-paulinos e seis a sete vezes mais forte do que o do boletim mensal do rival Flamengo da década-1920. Medindo 32,5cm, x 22,5cm, o produto vascaíno era chamada de Boletim de Informação e o exemplar de janeiro/fevereiro de 1953, publicado como Nº 1 da 2ª série, já estava no ano 12. Chamou muito a atenção dos leitores belas capas coloridas produzidas pelos artista Aristóteles de Abreu Almeida, em 1953, e  Orlando Mauro, em 1954.
Os responsáveis pela produção editorial enchiam as edições de peças das casas portuguesas e, ainda, deixavam um recado pelas páginas: “O Boletim pede a sua preferência para os nossos anunciantes. Eles colaboram para o prestígio desta publicação vascaína, feita para os vascaínos”. Entre algumas empresas de vascaínos anunciavam: Fornecedora de Madeiras Cruza de Mallta; União Fabril Exportadora, divulgando o Sabão  Portuguez; Pan-América Indústria Gráficas; Companhia Comercial e Marítima; Ótica Rio e Organização Imobiliária Bel-Mar. Isso, além de dezenas de comerciantes que iam de restaurantes a chapelarias, passando bares, cafés, sapatarias, alfaiatarias, sofás, flores, cargas, encomendas, refrigeração e até advogado oferecendo serviços em Portugal.
 Entre outros nomes famosas, também se faziam presentes: Brahma Chopp; Grapette (refrigerante); Café Predileto; Banco Mercantil de Niterói; Casa José Silva (vestuário para homens); Mundo das Tintas; Carrosserias Metropolitana; Superball (artigos esportivos); O Camizeiro e Casas Huddersfield (casimiras tropicais).      
 O Vasco da Gama sempre fez questão de manter a sua divulgação ativa. Em julho de 1960, o nome já era Revista do Vasco e a captação de anúncios entre os comerciantes portugueses seguia, evidentemente. Mas outras firmas tornaram-se clientes,  como Gillette; Facit; Mesbla e Lojas Nice. O detalhe foi que as edições encurtaram para 23cm x 15,5 cm e o papel jornal voltou. No tempo do boletinzão tinha-se mais anúncios.

 
POR FALAR EM BOLETIM, o Botafogo foi o clube que mais demorou usando esta denominação para o seu divulgativo oficial, como constam, por exemplo, nas hoje raríssimas edições com a foto do time campeão carioca de 1948  e o da 3º Olimpíada Botafoguense, em novembro de 1959, quando imprimiu-se o Nº 156, em papel jornal e todo em preto e branco. Em  1998, passou a ser Revista do Botafogo, com vários anúncios natalinos da casa, em dezembro, pelo Nº 6. Contrastando com a vagareza alvinegra em adotar um nome mais em moda, os rubro-negros já circulavam coma Revista do Flamengo em 1937 – a terceira edição com a nova denominação, em dezembro, trazia a beleza da nadadora Lygia Cordovil. Em 1939, já faziam capa artisticamente tão bem trabalhada quanto as cruzmaltinas da década-1950 – por exemplo, o Nº 11 do ano 3.
 Embora fosse um clube de grande torcida, o Flamengo jamais produziu revistas majestosas. Quem mais marcou pontos junto à sua galera e aos anunciantes foram o Jornal dos Sports e as revistas Placar e Lance. Estas duas, juntas, já tiraram 12 edições especiais em cima da mística do clube, entre 1971 e 2009, ano em que o clube tentou colocar na praça um novo produto. Na época, um leitor escreveu à redação da nova experiência que suprimia a palavra revista e titulava só Flamengo com as letras CRF entrelaçadas ao O: “A revista tá muito maneira, coloridaça, cheia de assunto e, principalmente, produção cultural rubronegramente correta, isto é, só fala do Flamengo! Isso sim é que é revista. Não são aquelas porcarias que a gente compra porque o Zico tá na capa e acaba pagando pra ficar sabendo que seilaquenzinho foi fazer presença no churrasco...Na Revista do Flamengo não tem essa, os temas são selecionados”.
Editada por Marcio Saldanha Marinho, o projeto foi oficial, com filosofia diferente da maioria das publicações clubísticas, muito institucionais. A linha editorial focou totalmente o torcedor, segundo Ricardo Hinrichsen, o então diretor executivo de marketing do Flamengo. Mas não funcionou. Saiu logo do mercado, não conquistando o anunciante, mesmo com o clube campeão brasileiro na temporada. O mesmo ocorrera com uma nova revista do Vasco, mais ou menos dos mesmos moldes.

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