Vasco

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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

BELAS DA MANCHETE ESPORTIVA - JÔ

 “...é miss, é cam...”. O escaner do “Kike da Bola” não pegou a frase toda. Mas você imaginou certo: “...é campeã...” E que menina do pódio! Joselina Cipriano, além de carregadora de medalhas, aos 19 aninhos de idade, era a Miss Espírito Santo-1956. Mais? Nascida em Cachoeiro do Itapemirim, ficou famosa primeiro do que o  conterrâneo vascaíno, o “Rei” Roberto Carlos.   
A gatinha capixaba, fotografada por Orlando Machado, ganhou três fotos do Nº 7 da “Manchete Esportiva”, nos famosos “ecktachromes coloridos” que a revista carioca fazia questão de destacar. E espaço só menos nobre do que a capa. Pintou  na área total das páginas 2 e 48, esta a contracapa, onde mostra o seu sorriso e a juventude em flor, ao lado de uma pedra e das águas de uma praia de Vitória.
Na chamada  das duas páginas, a redatora do texto sobre a gatinha, a Meg, provocou um temendo susto na rapaziada. Escreveu que Joselina ...”está enamorada”. Um choque! Mas, quem teve a calma de ler todo o escrevinhado, lá no meio da matéria descobriu que, mesmo despertando muitas paixões e dando asas ao seu coração, no momento, ninguém o acelerava. Ufa! Assim, namoro só com taças, faixas e medalhas, para sorte dos paqueras e nem tanto para as adversárias.

Quando fez o ensaio para a revista, “Jô” já era universitária, na capital capixaba. Na infância, mesmo com os nove irmãos achando-a uma loirinha, ela considerava-se uma feinha menina de tranças, brincando com as suas bonecas. Depois que cresceu, até concordou que enrubescia a rapaziada, dentro de um vestido vermelho, a suas cor predileta. Tão predileta quanto uma lazanha nos caprichos. Sem predileção só por acordar cedo.    
No esporte entrou na vida da “Miss Jô” desde menina. Durante ao ensaio para estas fotos, ela contou à Meg que tinha medalhas de campeã de lançamento do disco e do dardo; de corrida de revezamento, e, também, de voleibol, como se falava.  Os seu olhos verdes só ficaram tristes quando ela não conseguiu ser bi no vôlei da II Olimpíada Estadual-ES. E quando teve de se contar com vice-campeonatos de pingue-pong, o  hoje, rebatizado por tênis de mesa. Pelos finais de 1956, Joselina estava decidida a se concentrar mais nas piscina. Ainda não havia termos como “polivalente, multiatleta, etc”, mas ela já estava à frente”, com 1m66cm de altura, 60 de cintura, 90 de busto e 93 de quadris. Bem distribuídos dentro de 56 quilos.   

O VASCO NOSSO DE CADA DIA - 31.08

31 de agosto tem sido dia de manter a tradição mantida de vencer rivais cariocas e "fregueses" de outras plagas. Sem mais delongas, bola no gramado:

VASCO 3 X 2 BANGU, em um sábado, no Maracanã, valeu pelo Campeonato Carioca-1957, assistido por 10.506 pagantes. O nome do jogo foi o atacante Almir ‘Pernambuquinho”, marcando dois gols – Waldemar completou a fatura. O treinador Martim Francisco mandou ao gramado: Carlos Alberto Cavalheiro; Paulinho de Almeida e Bellini; Orlando, Écio e Coronel; Sabará, Lierte. Almir (foto), Waldemar e Laerte.
Reprodução da Revista do Esporte

VASCO 2 x 1 AMÉRICA também foi  no Maracanã, pelo Campeonato Carioca-1958, uma temporada de superglórias cruzmaltinas. Antônio Viug apitou, em um domingo, e teve de determinar "ressaídas" de jogo por causa dos gols vascaínos marcados por Wilson Moreira e Almir. O treinador era Gradim confiou em: Barbosa, Paulinho e Bellini; Orlando, Écio e Coronel; Sabará, Rubens, Almir, Wilson Moreira e Pinga.

VASCO 1 X 0 CRUZEIRO foi dos chamados "jogo da sorte". Vitória com gol contra do lateral cruzeirense Nonato, aos 26 minutos do segundo tempo. Valendo pela primeira fase do Campeonato Brasileiro-1994, rolou em São Januário, assistido por 2.699 pagantes e apitado por Oscar Roberto Godoi-SP. O treinador Sebastião Lazaroni escalou: Carlos Germano; Pimentel, Ricardo Rocha, Alexandre Torres e Bruno Carvalho; Sidnei, França, William e Yan (Leandro); Valdir "Bigode (Jardel) e João Paulo. 

VASCO 3 X 1 CEARÁ, em São Januário, valeu pela fase única do Campeonato Brasileiro-2011. Elton, aos 6 e aos 20 minutos do segundo tempo, e Éder Luís, aos 16 da mesma etapa, foram os caras que deram trabalho ao garoto do placar. Era uma quarta-feira e a rapaziada aumentou a sequência, para 11 jogo, sem perder pra o alvinegro cearense, pelo Brasileirão unificado. O treinador Cristóvão Borges escalou: Fernando Prass, Márcio Careca, Renato Silva, Dedé, Alan, Rômulo, Diego Souza (Bernardo), Eduardo Costa, Juninho Pernambucano (Felippe Bastos), Éder Luís e Alecsandro (Élton).   

A "Vascodata" 31 de agosto anota ainda três empates que na linguagem de antiquíssimos "speakers" eram chamados, pela sequência, como  "progressivos" e "mantenedor", quando repetia um placar anterior. Ei-los: 31.08.1941 – Vasco 1 x 1 Bonsucesso; 31.08.1975 - Vasco 2 x 2 Vitória-BA e 31.08.2006 - Vasco 2 x 2 Ponte Preta.

ESCORREGOU DIANTE DO FREGUÊS

O Vasco era o time a ser batido. Liderava o Campeonato Carioca.. Se perdesse do Fluminense, em 16 de novembro de 1958, a disputa ficaria bem mais quente. Era o Flu encarar e a concorrência secar.
 E rola a bola. No primeiro tempo, 0 x 0. Quando nada, já era um pontinho sendo perdido pelo líder, comemoravam os perseguidores, torcendo para que os vascaínos continuassem daquele jeito, e os tricolores fizessem, ao menos, um golzinho. Ficaram assim, durante o intervalo, na expectativa de que o “Homem Lá de Cima” tricolasse, daquela vez.

Écio não acredita que Barbosa está batido. Quem não queria bater no líder?
Passou-se o tempo regulamentar de descanso e Alberto da Gama Malcher apitou o reinício da contenda. Para desespero dos rivais, dois minutos depois, Sabará fez um passe comum, despretensioso, para Pinga. Falha coletiva da defesa do Flu, principalmente do goleirão Castilho.  José Robles, o homem que não bebia pinga, não o perdoou: Vasco 1 x 0.
 Segue o jogo. A torcida vascaína nem acabara de comemorar o gol, quando Valdo empatou, aos sete. Comemoração geral. Dos tricolores e dos demais. Eram todos contra o “Almirante”. Lá de sua cadeira, o cronista tricolor Nélson Rodrigues viu Malcher deixando de marcar dois pênaltis contra o Vasco. Ele e toda a tricolagem. Mas, do lado da “Turma da Colina”, a coisa foi bem pior. Aos 44 minutos do seguindo tempo, a rapaziada viu bola entrando no gol do time tricolor. Que pancada desferida pelo centroavante Delém! Mas acertou a trave, e não a rede. A concorrência agradeceu ao poste e respirou aliviada. O Vasco havia perdido um ponto.  Seguia líder, mas havia balançado, Ficara a dois pontos do Botafogo, a três do Flamengo, e a quatro de Fluminense e América.
Naquele dia, o time do técnico Francisco de Sousa Ferreira, o Gradim, alinhou: Barbosa; Paulinho de Almeida, Bellini, Orlando e Coronel; Écio e Valdemar; Sabará, Roberto Pinto, Delém e Pinga. Da ótima renda, de Cr$ 1 milhão, 572 mil, 643 cruzeiros, a moeda da época, evidentemente que a maior parte saíra do bolso dos cruzmaltinos. Afinal, a rapaziada era em muito maior número do que a tricolada da freguesias. Confere? (foto reproduzida do Nº 157 de Manchete Esportiva).       

    

terça-feira, 30 de agosto de 2016

BELAS DA MANCHETE ESPORTIVA - DAISY

Daisy Miguel era o que se poderia  classificar, tranquilamente, de “super sport girl”. Desde os tempos de estudante do Colégio Plínio Leite, em Niterói-RJ, não deixava escapar nada.
O que pintasse pela frente ela praticava. Mudando-se para o Rio de Janeiro, foi bicampeã da eficiência esportiva dos  aplaudidíssimos Jogos da Primavera-1953/54, competindo em 13 modalidades e dominando a maioria –, entre elas, tênis, tênis de mesa, salto em altura, 100 metros rasos, revezamento 4 x 1 metros, remo, vôlei e ciclismo (1953), 1.500 metros (recordistas), iole a dois, baleeira e, novamente, ciclismo (1954).
Depois de disputar o Campeonato Carioca-1954 de Vôlei, pelo Flamengo, Daisy Miguel mudou para o basquete, em 1956, do Botafogo. Naquela temporada, ela foi emprestada, ao Fluminense, par reforçara o time tricolor em uma excursão à Lima, a capital peruana, onde disputaria um torneio contra uma equipe da terra, do Paraguai e do Chile. Ela foi clicada, por Ângelo Gomes, para o Nº 66 da “Manchete Esportiva” de 23 de fevereiro de 1957.
Daisy Miguel was what you might call , quietly , "super sport girl " . From the time of Plinio Leite College student, in Niterói-RJ, did not miss anything. What paint she practiced ahead. When moving to the Rio de Janeiro, was twice champion of sports efficiency Primavera-1953/54 Games, competing in 13 procedures and dominating the majority - including , tennis , table tennis , high jump , 100 meter dash , the relay 4 x 1 meters, rowing , volleyball and cycling (1953 ) , 1500 meters ( record holder ) , yawl two , whaling and again , cycling ( 1954). After playing the Campeonato Carioca-1954 Volleyball at Flamengo, Daisy Miguel moved to basketball in 1956 for Botafogo . That season, she was loaned to the Fluminense couple had reinforced the tricolor team on a tour to Lima , the Peruvian capital , which would play a tournament against a team from the ground , Paraguay and Chile. She was spotted by Angelo Gomes to the No. 66 of " Headline Sports " of February 23, 1957.

O VASCO NOSSO DE CADA DIA - 30.08

Nem só de futebol se conta a história do Vasco. O Almirante entra nela por diversos lances. Por exemplo, em 30 agosto de 1942, ele ganhou busto de bronze à entrada da sede do clube, à Rua General Almério de Moura. Passados 11 anos, foi inaugurado, e m São Januário, o maior parque aquático sul-americano e que sediou a Copa do Mundo de Natação-1998. Com bola no pé, três destaques: goleada sobre Timbu e vitórias contra Urubu, Leão e time de Araras.

VASCO 1 X 0  FLAMENGO aconteceu em um domingo, no Maracanã, com gol do grandalhão Valfrido, o “Espanador da Lua”, diante de 50.473 terráqueos. Elba de Pádua Lima, o Tim comandava a rapaziada, o juiz foi Carlos Costa, valeu pelo Campeonato Carioca-1970 e o time batedor teve: Andrada; Fidélis, Moacir, Renê e Eberval; Alcir e Buglê; Jaílson, Silva, Valfrido e Gilson Nunes (Ademir).
VASCO 3 X 2 SPORT RECIFE pode ser contado como a história do Leão que caiu na jaula da Colina. Mesmo já tendo cedido ao "Almirante" feras como Ademir Menezes, Almir, Vavá e Juninho Pernambucano, o rubro-negro pernambucano não teve perdão. Foi castigado no  30 de agosto de 1997, em sua casa, o Estádio Adelmar Carvalho, mais conhecido pela localização, na Ilha do Retiro. Daquela vez, a fúria foi do "Animal" Edmundo, aos 20 e aos  31 minutos do 1º tempo, e de  Felipe, aos 36 da etapa final. Era um sábado e Paulo César de Oliveira-SP apitou. O treinador Antônio Lopes escalou: Márcio. César Prates, Odvan, Mauro Glvão e Felipe; Luisinho, Válber (Fabrício Eduardo), Pedrinho (Alex Pinho), Edmundo e Evair (Nasa).

VASCO 4 x 1 NÁUTICO, em São Januário, integrou a 22ª rodada do Campeonato Brasileiro-2007, em uma quarta-feira. Leandro Amaral, aos 21 minutos do primeiro tempo; Marcelinho Carioca, aos 29 e aos 44 da fase final, além de Rubens Júnior, aos 44, anotaram no caderninho dos pernambucanos. Celso Roth era o treinador desta rapaziada: Sílvio Luiz; Vilson, Jorge Luiz, Rubens Júnior e Wagner Diniz; Amaral, Andrade, Conca e Guilherme (Xavier);  Abuda (Marcelinho) e Leandro Amaral (Alan Kardec). O jogo teve 9.619 pagantes e renda de R$ 96, 
VASCO 1 x 0 UNIÃO SÃO JOÃO foi pega em que a união não fez a força. E "desesforçou" de cara, pois o time da cidade paulista de Araras marcou gol contra, por intermédio de um cara chamado Olinto, aos 3 minutos do primeiro tempo. O jogo, em uma quarta-feira, em São Januário, valeu pelo primeiro turno do CampeoantoBrasileiro-1995, com o técnico Jair Pereira escalando: Carlos Germano; Pimentel, Ricardo Rocha, Tinho e Jefferson; Luisinho Quintanilha, Yan (Charles Guerreiro), Nélson e Juninho Pernambucano (Geovani): Valdir "Bigode" e Leonardo.   
A "Vascodata" 30 de agosto inclui três empates pelo mesmo placar – 30.08.1925 – Vasco 1 x 1 São Bento-RJ;  30.08.1968 - Vasco 1 x 1 Bangu  e 30.08.1998 - Vasco 1 x 1 Flamengo.

LENDAS DA COLINA - ALMIRANTE-1923

 1 - O ano de 1923 entrou porta adentro da casa dos brasileiros, como se o 22 não tivesse acabado. Razão mais do que suficiente para, dez dias depois da virada do calendário, Alípio D´Álencastro, o Lipo, comentar com Alberto Giudicelli, o Beto, seu grande amigo, vizinho e colega de bancos escolares:

-  Não espere grandes novidades para este novo ano. O Bernardes vai manter as oligarquias dando as cartas, pois os paulistas e os mineiros que lhe ajudaram a vencer o Nilo Peçanha são muito mais fortes do que as oposicionistas elites rurais do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, da Bahia e de Pernambuco.






- Não resta dúvida, disso também tenho a certeza. Quando nada, espero que, pelo menos, o repressivo governo daquele homem se amaine e ele dê fim ao estado de sitio – desejou Beto.
- Não creio, amigo. De quem saiu da boca das urnas com eleição fraudada, não espero, mesmo, grandes lampejos democráticos – advertiu Lipo.
 Eleito em março de 1922, o presidente Arthur Bernardes dera inicio ao cunho repressor do seu governo com menos de quatro meses de mandato, quando 18 tenentes rebeldes o desafiaram, cobrando mudanças de rota politica e maior democratização.
 - Na verdade, Beto, descendo o cipó nos revoltosos, o Bernardes não fez mais do que comprovar as suas origens. Ele não nasceu em Cipotânea? – brincou o Lipo, aludindo à cidade mineira onde a cegonha o entregara, em 8 de agosto de 1875, muito antes da localidade trocar de nome, para Viçosa.        
 
2 – Promovido à divisão de elite do futebol do Rio de Janeiro, em 1923, o Club de Regatas Vasco da Gama marcara um amistoso, contra um time da cidade, o Americano Football Clube, para o dia 14 de janeiro. Seria a sua primeira partida da temporada e preparativa para a estreia no Campeonato Carioca, em 15 de abril, diante do Andarahy. Filho de portugueses e torcedor vascaíno, naturalmente, Lipo não pudera assistir aos 3 x 1 mandados pela rapaziada. Em férias estudantis, ele combinara com um tio, de passar as duas primeiras semanas do ano em sua fazenda, em Porciúncula, na divisa do Rio de Janeiro com Minas Gerais.   
Lipo voltou ao Rio de Janeiro na noite da mesma data em que os cruzmaltinos saíram radiantes do “green”. No dia seguinte, ele e o amigo Beto foram à Faculdade de Nacional de Direito do Rio de Janeiro  renovarem as suas respectivas matriculas. E só tiveram um assunto em suas conversas: as escaramuças políticas no Rio Grande do Sul,  onde o caudilho Borges de Medeiros vencera Assis Brasil nas urnas, levando o Partido Republicano Rio-grandense para o quinto mandato consecutivo, enquanto a oposição defendia que ele não poderia ser empossado, por não ter obtido mais de três quartos dos votos. 
 Eles discutiam, mas não sabiam se aquilo era previsto em alguma lei eleitoral. Foi quando o Giudicelli jogou um palpite no ar:        
- Sabe de uma coisa? Eu acho que ísso é tudo o que o presidente Bernardes sonhava para intervir no Rio Grande do Sul. Não se esqueça de que ele não perdoa o Borges e o seu partido, por terem apoiado o Nilo Peçanha na eleição presidencial do ano passado.
- Não creio que o Bernardes tenha peito pra isso. A não ser que ele queira abrir mais uma guerra no Sul. O Borges de Medeiros tem conexões capazes de lhe fornecerem, rapidamente, centenas de mercenários buscados no Uruguai. Quando as tropas do governo chegassem a Porto Alegre, cansadas e com fome, seriam, imediatamente, recebidas à bala – acreditava Lipo, que mostrara-se bom de análise política, tanto que. Acontecera o que ele previra. O presidente Arthur Bernardes preferira a cautela e não encarar Borges de Medeiros.
Nem todos, no entanto, pensavam como o presidente da república. O seu xará Arthur Caetano, deputado oposicionista à Assembleia Legislativa gaúcha, tomou as responsabilidades da questão para si e levantou em armas a região serrana do Estado, não muito distante da capital. Mesmo assim, Borges de Medeiros foi empossado, no  25 de janeiro daquele 1923, embora os rebeldes não desistissem de derrubá-lo. Durante sete meses, atazanaram o governo estadual e chegaram a dominar as cidades de Piratini, Passo Fundo, Quaraí, Canguçu, Alegrete, Camará e Pelotas. O apoio dos aprendizes de caudilho, como Flores da Cunha, Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha, Paim Filho e Firmino de Paula não satisfez ao chefe. Ele contratou um caudilho mais experiente, o uruguaio Nepomuceno Saraiva e mais 500 mercenários, e chamou-os a invadirem o solo gaúcho, em sua defesa. Não dava mais para o presidente Arthur Bernardes ficar em cima do muro. Mas, mais uma vez, ele preferiu subir na e enviar ao Sul o seu ministro da Guerra, o general Setembrino de Carvalho, para tentar um acordo de paz, o que só conseguiu e foi assinado em 12 de novembro.
Tempos depois, quando as aulas recomeçaram, Lipo contou ao Beto Giucicelli:
-   Fiz uma pesquisa nesse mar de livros da biblioteca da nossa faculdade e, até agora, não encontrei exemplos sobre a reforma em nenhuma constituição estadual – se referia à mudança de redação no artigo 9 da carta estadual do Rio Grande do Sul, proibindo a reeleição do govenador para o período seguinte. Fora o acordo para Borges de Medeiros seguir no poder.      

3 - FEVEREIRO – Lipo e Beto deixavam a Faculdade Nacional de Direito, entidade fundada em 1981, após mais um dia de aulas e caminharam até o ponto do bonde, daquela vez sem conversas sobre artigos e parágrafos. Abordavam o aumento de população do Rio de Janeiro, que já chegava à casa dos 30 mil. Quando entraram no coletivo e sentaram-se, mudaram a conversa e o Giudicelli comentou e indagou ao amigo:
- Ontem, fui à posse do tenente-coronel Djalma Urich, no comando do 10º Batalhão de Engenharia e Construção. O meu pai é muito amigo dele. Por lá, encontri-me com o seu futuro sogro e a Bete, que pareceu-me muito triste. Vocês tiveram algum desentendimento?
- Jamais! Ela está assim há vários dias, porque o Candinho, o seu vizinho e professor de pintura, avisou-lhe que está indo embora. Vai morar em Paris. A Bete acha que, perdendo o seu mestre, sofrerá grande prejuízo em seu aprendizado.
- O Cândido Portinari está deixando o Brasil? – não sabia Beto Giudicelli.
- Não demora!
 Interessante! Recentemente, alguém falou-me que o Lazar Segal está voltando. Uns vão, outros voltam e a arte viaja. De repente, Lipo, pode até ser bom para a Bete perder a sombra do Candinho. Acho que já é hora de ela voar com asas próprias, você não acha?
- Não tenho conhecimento suficiente sobre pintura para dar um parecer. Mas vou falar-lhe sobre isso.

4 - MARÇO - Por aquele ano de 1923, quando os acadêmicos Lipo e Beto tinham 23 anos de idade,  celebrava-se um século que José Feliciano Fernandes Pinho, o futuro Visconde de São Leopoldo, propusera projeto de lei à Assembleia Nacional Constituinte, criando cursos jurídicos no Brasil. Como a Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro, onde estudavam, vivia o seu 32º período de atividade, os dois e os demais colegas, de caçoada, trocaram a posição dos números que anunciavam, por um cartaz apregado em uma parede, o tempo de vida da casa – e o 32 virou 23. Destarte a molecada, os rapazes projetaram um baile comemorativo do centenário muito importante para as suas vidas, e foi nele que os dois vizinhos começaram a namorar, respectivamente, Elizabete Portimão, a Bete, e Lizandra Chiavenatto, a Liza, levadas ao festejo por seus irmãos, também futuros advogados.
Forante os folguedos em que jogavam bola com os amigos, Lipo e Beto começaram as lides desportivas do mês de março daquele 1923 como adversários.
- Li, hoje, na Gazeta de Notícias, que o Vasco da Gama  e o Fluminense se enfrentarão, amistosamente, no domingo, no campo do São Cristóvão – informou Lipo.
 - Que eu saiba, será o primeiro prélio entre ambos, não? – indagou Beto.
- Me parece que os players vascaínos nunca preliaram contra agremiações de primeira divisão – respondeu Lipo.
- Vamos assistir, então – propôs Beto.
 E foram. E assistiram, durante a tarde do dia 11, ao triunfo, por 3 x 2, do quadro que o uruguaio Ramón Platero treinava para a colônia portuguesa.
- Aceite as minhas congratulações – estendeu a mão, o tricolor Beto, cumprimento aceito pelo vascaíno Lipo, antes, ajeitando o seu chapéu e abrindo o sorriso com o qual saíra, pouco depois, do estádio da Rua Figueira de Mello.
5 -  No  dia 3 de abril de 1923 não houve aula na Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro, em respeito à memória do jurista baiano Ruy Barbosa.
 - Por mim, ele deveria ter ido, de há muito. Não passou de um grande filho daquela senhora que não assinou nenhum contrato na jurisdição voluntária do Estado. Advogou para os ingleses, contra interesses brasileiros; esteve com o Imperador, enquanto foi-lhe conveniente; bandeou-se para o lado dos republicanos, quando viu que o império estava em ruinas e, como ministro da Fazenda do marechal Deodoro da Fonseca, criou a dívida externa do país. Sem falar que era preconceituoso e se recusava-se a viajar com jogadores de futebol no mesmo transporte – exaltou-se Beto Giudicelli, indo além: “Águia de Haia? Só se for para os analfabetos com a cabeça feita pelos se locupletavam das benesses da Velha República. O Ruy, na Holanda, fez, meramente, discursos normais a qualquer jurista e diplomata culto. Eu vou é comprar duas caixas de foguete e explodir o céu do Rio de Janeiro, comemorando a chegada dele ao inferno. E que por lá fique a sua alma”.  
- Sabe que, se alguém ouvir o que falas e, se lhe denunciar, você pode  responder por crime contra o patrimônio cultural do país, não sabe, Beto? – cobrou o Lipo.
6 - A novidade daquela ano para o Torneio Início do Campeonato Carioca da Primeira Divisão era o Vasco da Gama. Os portugueses que mantinham o clube estavam eufóricos para o primeiro jogo da moçada na elite do futebol estadual, embora a disputa não fosse oficial,  mas um mero festival de bola, abrindo a competição principal da temporada que começaria no final de semana seguinte.
Alípio D´Álencastro e o seu grande amigo tricolor Beto Giudicelli combinaram de irem junto às Laranjeiras, na tarde do 8 de abril. De cara, o Fluminense foi eliminado, pelo Visla Isabel.
- Que pena, Beto. Eu gostaria  de que as nossas agremiações disputassem a final.
- Quem sabe, no ano que vem! Em todo caso, não vou apupar o seu Vasco.
O novo membro daquele daquele grupo de primeria divisão nem precisou de força externa à energia de sua torcida para vencer o São Cristóvão, por 2 x 0, contando cm os serviços de:  Nelson, Cláudio, Leitão, Arthur, Claudionor “Bolão”, Nicolino; Mingote, Paschoal e Negrito completaram o grupo de players vascaínos.
- Congratulo-me com o triunfo do seu quadro – disse Giudicelli, para um comemorativo Lipo que não pode estender mais alegria após o segundo compromisso da representação que simpatizava, superada pelo Mackenzie, por 2 x 1.
  - É, Beto! O encontro do Vasco com o Fluminense vai ficar mesmo para o ano vindouro – disse o vascaíno, que, de comum acordo com o amigo tricolor, preferiu ir embora. Giudicelli tambem não estava mais interessado em continuar por ali. Caso ficasse, teria visto o Mackenzie sobrepujar o Flamengo, na final, devido ao córner cedido pelos rubro-negros, pois, sem gols, decidia-se por tal critério técnico. 
7 -   O dia 20 de abril era uma sexta-feira. Nele, Liza pediu ao Beto para acompanhá-la, à tarde, até a casa de uma amiga, na Praia Vermelha. Como estaria livre no período, só teria aula até o meio-dia, o namorado poderia, sem problemas, atender ao pedido. Como era final de semana e poderiam fazer um passeio maior, ele convidou Lipo e Bete a irem juntos. E foram. Quando encerraram a visita e iam embora intrigaram-se com um sujeito manejando um aparelho esquisito, pelas imediações. Curiosos, como convinha aos bons advogados,  foram até a homem, indagar o que era aquilo.
 - Estou fazendo uma transmissão de rádio, meus jovens. É a primeira vez que alguém faz isso nesse país. Dentro de dez dias, no máximo, vocês estarão ouvindo a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. O rádio será o jornal de quem não sabe ler; o mestre de quem não pode ir à escola; o divertimento gratuito do pobre e o animador do espírito e guia do povo – jactou-se, o homem respondedor. 
Depois de mais algumas indagações e respostas, e Lipo, Beto e as garotas agradeceram-no pelas explicações, despediram-se e um deles indagou-o pelo seu nome.
- Me chamo Edgard Roquette-Pinto, moçada. Às suas ordens! – e voltou á sua transmissão experimental, com aparelhos emprestados pelo governo do presidente Arthur Bernardes.
 Lipo e Beto combinaram de ficarem atentos ao dia da inauguração da primeira emissora de rádio brasileira. Antes daquilo, ao final de uma aula, um professor passou-lhe uma pesquisa, analisando duas recentes atitudes do governo federal: os decretos 16.019 e 16. 027, respectivamente, criando o serviço de Inspeção de Defesa da Costa Marítima  e criando o Conselho Nacional do Trabalho. Teriam que gastar um tempinho em cima disso, pesquisando mais e namorando menos.
 Lipo não pudera ir aos dois primeiros jogos do Vasco da Gama na elite do futebol carioca, vencendo ao Andarahy – 1 x 0, por decisão da Federação..., mas com placar de 1 x 1 no gramado – e ao Botafogo, por 3 x 1, nos dias 15 e 22 daquele abril, respectivamente. No domingo 29, ele foi um dos primeiros torcedores a chegar ao estádio da Rua Paysandu, a fim de assistir à primeiro contenda dos vascaínos contra o Flamengo. Beto desejou-lhe boa sorte e esta compareceu ao placar: 3 x 1 sobre os rubro-negros.
“Mas que time é este, que já venceu o Fluminense, o Botafogo e o Flamengo, com galhardia?”, indagavam as pessoas pelas ruas do Rio por onde o Lipo andava. O futuro advogado sorria, como voltara a sorrir no dia 13 de maio, quando o time cruzmaltino visitou o estádio da Rua Campos Sales, o reduto do América, e o venceu por 1 x 0, com uma formação repleta de jogadores negros, exatamente, no dia em que a abolição da escravatura contava 35 anos – Bodas de Coral. Uma semana depois, o jogo seria contra o Fluminense, que desejava uma desforra do percalço de março.
- Vou devolver-lhe o revés – prometeu-lhe Beto, quando as duas equipes postavam-se para o ‘kick-off’, à espera do apito inicial do ‘referee’ – mas o Vasco da Gama repetiu o 1 x 0 do domingo anterior, juntando cinco vitórias seguidas. E que chegaram a seis, sete oito,  com  mesmos 3 x 2 sobre o Bangu e o São Cristóvão, e 3 x 1 pra cima do Andarahy.
Sempre vencendo, os vascaínos atingiram o primeiro dia do segundo semestre de 1923, invictos e derrubando os botafoguenses, de novo, daquela vez, por 3 x 2.
- É preciso parar o seu Vasco, Lipo. Assim, o campeonato não tem graça. Mas vocês não me enganam, não. Seus jogadores são profissionais, os comerciantes portugueses empregam-nos de araque. Ninguém trabalha, só joga bola, prepara-se, fisicamente. Por isso, deixa as outras representações com a língua de fora na segunda etapa. Sou tricolor, mas torcerei para o Flamengo vencer vocês, quando se encontrarem– prometeu Beto.        
 
8 – MAIO - Boa tarde, seu Batista. Mas que prazer encontrá-lo – Lipo, que passara por uma loja de sapatos, com o colega de estudo e vizinho Beto, depois das aulas, cumprimentou o amigo que encontrou também comprando calçados.
- Bom dia, Alípio – e estendeu o cumprimento ao companheiro do rapaz.
- O que o senhor conta de novo, seu Batista.
- Novidade mesmo. não tenho nenhuma pra contar. Mas aproveito a oportunidade para convidá-lo, e ao seu amigo, para o primeiro aniversário da minha filha Dircinha, no dia 7.
- Agradeço e farei força para comparecer. Se o meu amigo aqui fizer o mesmo, pode nos esperar para comer do bolo da menina. Desculpe-me! Como é mesmo o nome dela, Seu Batista?.
- Dirce Grandino de Oliveira.
- E o Batista, Seu Batista?
-Deixei-o de fora, Alípio, pois o Grandino e o Oliveira que estão nos sobrenomes dos pais já são bastantes.
- Mas Seu Batista, quem não conhece o Batista neste Rio de Janeiro? Não me conforme em saber que a filha do Seu Batista não é uma Batista. Pois vou chama-la de Dircinha Batista- brincou.  
  Os três sorriram e, pouco depois, saíram da loja caminhando e conversando. Um pouco adiante, na esquina, despediram-se e o Batista os informou de que ficaria por ali,  durante alguns instante, à espera de um amigo. Malmente Lipo e Beto seguiram caminho, deixando-o na esquina da rua, um homem encostado à parede de uma loja, diante de uma mesinha e olhando para uma bola de cristal, gritou:
- Senhor, venha conhecer o seu futuro.
- Este eu já sei, de cor e salteado, amigo – respondeu o Batista.
-  Olhe que pode não ser  como o senhor imagina. Eu nunca erro. Quem sabe, posso lhe dar uma grande notícia?
- Obrigado, amigo, mas nem estou tanto interessado nisso. Posso lhe dar uma ajudinha para um cafezinho, mas vou dispensar a sua previsão.
- Vou aceitar a ajuda, amigo, mas faço questão de ver o seu futuro. Encoste aqui.
Como não iria sair dali até o seu amigo chegar, ele deixou que o homem examinasse o seu futuro na bola de cristal.
 - Vejo aqui que o senhor tem uma linda filhinha e que ela vai ganhar uma bela festinha de aniversário. Também, que vai ser uma grande cantora e merecer grandiosas admiração do presidente da república.
Naquele instante, o amigo do Batista chegou gritando:
- Batista Júnior! Me dê aqui um abraço, amigão!
O Batista pediu desculpas ao homem da bola de cristal, por não poder continuar ouvindo as suas previsões, e foi embora com o rapaz por quem estava esperando.
 No último dia daquele maio, Lilpo e Beto, coincidentemente, voltaram a cruzar com Seu Batista, na rua. Mas, daquela vez, só o cumprimentaram, pois estavam apressados. Iriam à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, acompanhar a votação do Tratado de Extradição Brasil-Peru. Todos da sua turma iriam, pois era tarefa acadêmica conseguir uma cópia do texto e desenvolver uma redação analisando-o.    
9  -  Rapaziada! Tenho mais um trabalho de análise de documento oficial para vocês. Pesquisem o decreto de nº 16.024, que reúne o comando da Escola de Grumetes com a de Aprendizes de Marinheiro. Foi publicado no Diário Oficial da União do último dia 6 deste  junho. Corram atrás. Dou-lhes uma semana para apresentarem as suas conclusões – comunicou os professor da cadeira de Direito Público da Faculdade Nacional de Direito.
 - Fácil, Beto. Como já analisamos os decretos 16.019 e 16. 027, usaremos a mesma metodologia – propôs Lipo, ao colega. E, realmente, tiraram de letra o exercício, principalmente porque na visita à Comissão de Constituição de Justiça das Câmara dos Deputados conversaram com dois deputados que os ajudaram muito.
 Mais difícil foi eles cumprirem, na semana seguinte, a convocação canina de suas namoradas para ajuda-las a levar os seus cachorros à primeira exposição e primeiro campeonato de adestramento do Brasil Kennel Club. Como eles não possuíam automóveis, tiveram de se virar até conseguirem um transporte. Mas valera a pena o esforço. A cadela labrador, de Bete, e o cão doberman,  de Liza, voltaram pra casa premiados.
 Beto nem teve muito tempo para comemorar com a namorada e os amigos, o sucesso dos dois cães. No início da noite, ele embarcaria, de trem, para a capital paulista, com os pais, a fim de participarem das comemorações dos Giudicelli, pelos 90 anos de vida bem vivida de uma tia italiana. Quando voltou, presenteou o amigo Lipo com uma sinopse, feita por uma prima também estudante de Direito, que assistira ao discurso de posse de Jorge Tibirçá Piratininga na presidência do Senado do Estado de São Paulo. 
 - Se pudesse demorar mais, Lipo, eu teria assistido ao primeiro jogo de futebol noturno iluminado por holofotes. Os primos me informaram que estava sendo organizado por trabalhadores da Light.         
 - Sem problema! Você assistirá a um outro grande feito no desporto nacional. Desde já, é meu convidado para testemunhar a décima vitória consecutiva do Vasco da Gama no Campeonato Carioca. Quero ter o prazer de oferecer-lhe o ingresso.
- Quando será o prélio?
 - No dia 8 de julho.
- Está longe, ainda, mas, como eu já lhe disse, vou torcer para a sua agremiação abaixar o ímpeto por vitórias. O Flamengo é filho do Fluminense, estará tudo em casa. 
 10 -  A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que passara a transmitir, efetivamente, a partir do dia 1º de maio, informara, com vários dias de antecedência, que na primeira semana de julho, seriam inaugurados, em Salvador, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e uma estátua, em bronze, do poeta Castro Alves, no centro da capital baiana. Lipo e Beto acharam que aquela seria a oportunidade de, finalmente, aceitarem o convite de um amigo baiano, colega de faculdade e, que nas férias anteriores, já os havia convidado a hospedarem-se em sua casa e conhecerem a Terra de Todos os Santos, onde ele dizia haver 365 igrejas, “uma para cada dia o cristão rezar”, brincava.
Lipo até animou o pai de sua manorada, o professor Francisco Ribeiro Portimão – do Colégio Pedro II,  filho de portugueses, poeta e pesquisador dos acontecimentos que marcaram a libertação do seu Estado do jugo holandês. Aproveitaria aquelas férias escolares, participaria de acontecimentos importantes de sua áreas intelectual, manteria contato com os novos  historiadores da terra e reveria familiares e velhos amigos. No que o Chico Portimã topou, pois era muito amigo de um tio do rapaz que seria o anfitrião do seu genro.
 Durante as duas inaugurações baianas estivera presente o jurista – também poeta – Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, ao qual Lipo e Beto foram apresentados, pelo futuro sogro, que trocava poemas, por correspondência, com o velho amigo nascido nas Alagoas. Durante a conversa com o intelectual, os dois jovens o indagaram-no sobre itens contidos em seu Tratado de Direito Privado e no Tratado de Ações, Sistema de Ciências Positivas do Direito, e manifestaram o desejo de tê-lo proferindo  conferência na Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro, para que todos os seus colegas também usufruíssem daquela autêntica aula que tiveram. E o juristas alagoano admitiu fazê-lo, quando fosse ao Rio.
 Como passeava pela Bahia, Lipo não pode oferecer ao amigo Beto o ingresso prometido para a pugna em que o Vasco da Gama tentaria a décima vitória seguida em sua primeira participação na disputa de elite do futebol carioca. Ainda bem, para ele, pois, no 8 de julho de 1923, o Flamengo vencera, por 3 x 2, provocando uma tremenda festa, como se tivesse vencido em nome de todos os adversários vascaínos. Seus torcedores saíram em passeata pelas ruas da cidade, com grande vibração, como se estivessem comemorando o fim do estado de sítio.  
  11 -  O Vasco da Gama não conseguira cravar 10 jogos invicto, mas recuperou-se, durante a partida do  22 de julho, vencendo ao América, por 2 x 1. No dia 29, o adversário foi o Fluminense. E a terceira vez em que o cavalheiro Beto Giudicelli cumprimentou Alípio D´Alencastro pela vitória sobre o seu time.
- Posso dizer-lhe, amigo, que o seu quadro é mesmo imbatível. Você sabe que atua com profissionais e que as firmas dos lusitanos pagam até as refeições dos players, no restaurante Filhos do Céu, na Praça da Bandeira. Li isso em vários jornais. E que o treinador Ramón Platero, diariamente, os faz correr da Rua Moraes Silva, na Quinta da Boa Vista, até a Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel, tornando-os superatletas. Os rapazes das demais equipes nunca tiveram esta preparação física – queixou-se Beto.        
 Empolgado com os triunfos conquistadas por Nélson Conceição, Artur, Cecy, Claudionor, Leitão, Negrito, Paschoal, Torterolli, Nicolino, Arlindo, Cláudio, Mingote, Adão Brandão, Nolasco, Pires e Russo, o presidente Antônio Silva Campos passara a distribuir entre os atletas medalhas alusivas a Nossa Senhora das Vitórias. Nem precisava de contatos em outros graus. O Vasco só perdera, em julho, para o Flamengo, porque o árbitro Carlos Martins da Rocha, ligado ao Botafogo, anulara um gol legítimo, de Paschoal, propositalmente, para os cruzmatinos não serem campeões invictos.         
 Se a tática de tabelar com o Céu dava certo, o certo fora que o Vasco da Gama, após derrubar os tricolores derrubara, também, o São Cristóvão, no 12 de agosto, por 3 x 2. Colocaram a “mão na taça”, como escrevera um jornalista, como se o home tivesse só uma mão.      
11 -  Lipo e Beto, bem como as suas namoradas, estavam à espera de mais um casal de amigos, para irem à inauguração do Hotel Copacabana Palace, naquele 13 de agosto de 1923.  Enquanto esperavam, o Giudicelli, que era mestre em espinafrara figuras públicas, bateu:
- Estamos indo a uma festa com um ano de atraso. Simplesmente, porque o Bernardes é um canalha. Aliás, canalha é pleonasmo. Se já não bastasse estado de sítio e tantas outas repressão do seu governo, o velhaco atrapalhou no que foi possível. Tentou até cassar a licença para funcionamento de um cassino no hotel, só por causa de atrasos na execução do projeto. Mas como isso poderia andar, se ele dificultava a importação de itens necessários à execução da obra? Achava que era fácil fazer fundações com 14 metros de profundidade, em um país onde falta tecnologia e experiência para desenvovler um projeto de arquiteto acostumado às facilidades da Europa? Ainda bem que a família Guinle foi à Justiça e esta fez-lhe ver que ele não é o dono do mundo.
Enquanto Beto criticava o presidente da república, os amigos esperados chegaram. Logo, todos saíram para a festa na casa construída pelo empresário Octávio Guinle e o amigo Francisco Castro Silva,  atendendo pedido do presidente Epitácio Pessoa, o antecssor de Arthur Bernardes, para  hospedar o esperado grande número de estrangeiros que viriam ao Brasil para a Exposição do Centenário da Independência do Brasil, em 1922.
12 - Mesmo com todas as sacanagens do presidente Arthur Bernardes, a festa de inauguração do Copacabana Palace fora um sucesso. Lipo, Beto e as namoradas se divertiram muito. Seis dias depois, o vascaíno D´Alencastro tivera mais um dia de grande satisfação: o time do Vasco da Gama empatara, com o Bangu, por 2 x 2, e tornara-se campeão carioca da primeira divisão, em sua primeira participação na elite do futebol da terra.
 - Só irei contigo, Lipo, porque louvo a atitude do Vasco da Gama, de não aceitar o futebol limitado à nossa elite social e de combater a discriminação epidérmica. Louvável! Muito louvável. Mas reitero aquela minha reclamação de que profissionais jogaram contra amadores – discara Beto, na véspera do prélio.
 Era tarde do domingo 19 de agosto daquele 1923, quando o Vasco da Gama adentrou ao “field” da Rua Ferrer, aguardado pelo “referee” Américo Pastor. Lipo aplaudiu, delirantemente, a formação que o treinador uruguaio Ramon Platero  dispusera em campo: Nélson Conceição, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito. E ficou a contar com mais uma vitória vascaína, o que não parecia fácil, tendo em vista a etapa inicial terminar sem gols.
 -  Muito obrigado, por sufragar apoio ao meu Vasco -  agradeceu Lipo, ao amigo Beto, instantes depois do início do intervalo da contenda.
- Meramente, pelos motivos aos quais expliquei e reitero, Lipo. Além do mais, o Fluminense deve terminar o campeonato lá pelo quinto lugar, suplantado, também, por Flamengo, São Cristóvão e América – respondeu Beto.
 Veio o segundo tempo e o Bangu, que fazia uma fraca campanha, disputando, com o Andarahy, a desonra de não ser o penúltimo colocado, marcou um gol.
- Não acredito, Lipo. Em 13 jogos anteriores, os banguenses só venceram dois. Já sofreram 42 tentos. O que está acontecendo com o Vasco?
Lipo ajeitou os seus paletó e chepéu e contemporizou:
- Deixe estar, Beto, que há tempo suficiente para o Vasco reverter a desvantagem. Estás esquecido de como as coisas estão saindo? Já, aguarde, eles estarão com a língua de fora e os briosos rapazes vascaínos virando o placar.
O que aconteceu, porém, depois e surpreendentemente, foi o Bangu marcar mais um tento.
- Lipo, realmente, não estou acreditando no que estou assistindo. No momento de fechar a campanha com uma retumbante vitória, o seu Vasco tropeça em um quadro que já sofreu oito reveses!
- Calma, Beto! Embora já sejamos campeões, antecipadamente, ainda não estou descrente da virada no placar. Deixes estar!
 E o Vasco da Gama chegou ao empate, com gols de Claudionor e de Negrito, fechando a campanha do seu primeiro título de campeão estadual na elite, com 11 vitórias, dois empates e uma derrota no apito. Marcara 32  e sofrera 19 gols, ficando com o grande saldo de 13  tentos. Artur, Cecy, Claudionor, Leitão, Negrito, Nélson, Paschoal e Torterolli haviam participado de todos os compromissos. Nicolino e Arlindo, respectivamente, de dois e três a menos. Cláudio atuara em cinco partidas e Mingote em sete. Também contribuíram, com uma participação,  Adão Brandão, Nolasco, Pires e Russo.
- Mais uma vez, as minhas congratulações – expressou-se o Giudicelli, abraçando o amigo D´Alencastro.
 13 - O Vasco da Gama, quebrador de tabus e levando sete temporadas para ter um time na elite do futebol carioca, era campeão, em sua estreia, com o país vivendo péssima situação econômico-financeira e clima de grandiosa instabilidade política, gerada, sobretudo, pelo estado de sítio e a lei de censura à imprensa. Brasileiros  de São Paulo, Mato Grosso, Sergipe, Pará, Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro e  Rio Grande do Sul odiavam, ao máximo, o governo do presidente Arthur Bernardes,, numa época em que a Igreja Católica contava com a militância de intelectuais de grande influência sobre os intelectuais mais jovens e quando as doutrinas de São Tomás de Aquino proporcionaram surgir importantes órgãos e associações, entre eles o Instituto Católico de Estudos Superiores, a atual Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Por aquele 1923, havia seis igrejas e 16 congregações presbiterianas no Rio de Janeiro. Os protestantes defendiam, rigorosamente, a separação Igreja-Estado, fato advindo com a República e a Constituição de 1891). Mas havia outras correntes religiosas no país, como as sociedades teosóficas que acreditavam na reencarnações, e as Testemunhas de Jeová, que acabara de chegar, dos Estados Unidos.
Fora, também, naquele ano que a Igreja Católica pensara erguer o Cristo Redentor no alto do Corcovado, criticada pelos protestantes, por temerem um símbolo cristão transformar-se em objeto de adoração. Os católicos, porém, alegavam que o Cristo estendendo os braços seria correto, por ter sido assim que ele abençoara crianças e ficara na cruz.
Ainda naquele ano, o Rio de Janeiro e de São Paulo decidiriam, no dia 10 de setembro, o título de uma disputa nacional entre selecionados estaduais. Era a primeira vez que, oficialmente, a Confederação Brasileira de Desportos promovia algo assim. A do ano anterior fora considerada experimental. Aborrecido porque o Vasco da Gama só tivera o goleiro Nélson Conceição e o atacante Pascoal convocados para o time da capital do país, Lipo recusou o convite do tricolor Beto Giudicelli, para irem, dali a três dias, ao estádio das Laranjeiras.
- Eu também não concordo que o Fluminense só tivesse o Coelho, o Fortes e o Zezé na lista de convocação. Mesmo assim, quero ver a decisão – estava decidido, Beto.
-  Pois eu não aceito mesmo que menosprezem o Vasco da Gama campeão carioca, e chamem cinco  flamenguistas de nível técnico inferior aos nossos players. É o mínimo que posso falar de Dino, Junqueira, Moderato, Seabra e Nonô, bem como os botafoguenses Alemão, Palomone e Nilo. Juntando todos eles, não amarram uma chuteira dos vascaínos que não foram chamados.   
- Não seja tão radical assim, Lipo!
- De qualquer forma, não vou. Esta turma aí, além de seus três tricolores e do americano Osvaldo, não vai dar nem para o apito inicial do Afonso de Castro. Podes esperar por um banho de bola do Friendenreich, do Tatu e do Feitiço, sem falar do Neco e do Heitor.
E o palpite, ou a praga do revoltado  vascaíno Lipo não deu outra. Os paulistas mandaram 4 x 0, com Tatu furando três buracos na rede carioca e  Feitiço mais um. Diante de uns 20 mil presentes, os visitantes carregaram o caneco, sem discussões.    
14 - Pelo final do ano, após a conclusão de mais um período de estudos, ambos ficaram noivos. Alberto Giudicelli perguntou ao amigo Alípio D´Alecastro:
- O que desejas por presente de noivado?
- Não me atrevo pedir-lhe, pois iria constrangê-lo.
- E o que me seria tão constrangedor assim?
- Torcer pelo bi do Vasco.
- Realmente, amigo, só se fosse em troca de uma situação excepcional, como o governo do Bernardes chegar para mim e prometer acabar com o estado de sitio, em troca de eu torcer pelo Vasco da Gama. E, já que o seu desejo é este, então, faço-lhe a mesma solicitação: torça para o meu Fluminense recuperar o prestígio de campão.
 Não foi preciso. Em 1924, houve um segundo racha no futebol carioca e Vasco e Fluminense ficaram em lados diferentes. O primeiro na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres e o outro na Associação Metropolitana de Esportes Athléticos. De repente, uma armação bem bolada do destino. Lipo e Beto comemoraram a conquista do título das respectivas entidades a que seus clubes se  filiaram.
 
Escrito por Gustavo Mariani, entre 22 e 27 de abril de 2016
 
 
 
 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O VASCO NOSSO DE CADA DIA - 29.08

A data de 29 de agosto representa começo e fim de uma particularidade na história vascaína: final dos encontros com o River, pelos Campeonatos Cariocas da Segunda Divisão, e o início das refregas contra o Coritiba, pelos Brasileirões. O placar do dia tem um outro River nas paradas, bem como sergipanos, mato-grossenses, gaúchos e mais dois cariocas. 

VASCO 5 X 0 RIVER – A tarde do 29 de agosto de 1920, na Rua Campos Salles, que marcou o último confronto entre vascaínos e riverenses – iniciado em 9 de setembro de 1917, no estádio da Figueira de Mello, com escore mínimo para a "Turma da Colina" –, teve  Medina (2), Negrito, Antonico e Aristides Esquerdinha castigaram o rival. Depois de oito encontros, contava-se sete vitórias cruzmaltinas e um empate. Nesse rolo, três goleadas: 5 x 2, (15.12.1918) e  8 x 2 (22. 06.1919) e os 5 x 0 citados acima. Além disso, a rapaziada venceu mais duas vezes, ambas por 2 x 0, (23.06.1918 e 09.11.1919) e em uma outra (27.06.1920), por 2 x 1. O único empate aconteceu (16.12.1917) no segundo encontro desses pegas, com todos valendo pela Segunda Divisão carioca. 
 
VASCO 3 X 2 CANTO DO RIO, pelo Campeonato Carioca-1948, teve Ademir Menezes (2) e Edésio (contra) atravessando dois pontos (critério da época), de barco, para a Colina. Ainda não havia a ponte Rio-Niterói, onde a bola rolou, no Estádio Caio Martins. Alberto da Gama Malcher apitou e os vitoriosos foram: Barbosa, Augusto e Wilson; Ely, Danilo e Alfredo; Djalma, Ademir Menezes, Dimas, Tuta e Chico.
 
VASCO 2 X 0 BONSUCESSO foi do Campeonato Carioca-1954, com a moçada na divisão de elite, há 31 anos. Durante aquela navegação, o "Almirante" subira de status e já contabilizava 10 títulos no currículo – 1923/24, pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres; 1929, pela Liga Metropolitana de Esportes Athléticos; 1934 pela Liga Carioca de Foootball; 1936, pela Federação Metropolitana de Desportos; 1945, pela Federação Metropolitana de Futebol (FMF); 1947, pela primeira vez, por uma mesma entidade, pela qual levara as taças, ainda de 1949, e1950 e 1952. Os 2 x 0 citados acima foram em um domingo, em São Januário, quando o técnico Flávio Costa contou com: Barbosa, Paulinho de Almeida, Bellini, Mirim, Laerte, Dario; Sabará, Alvinho, Pinga e Djayr.

VASCO 4 X 0 RIVER-PI  fez parte dos amistosos de 1965. Este foi em Teresina, a capital piauiense, e os caras eu levantaram a torcida vascaína local foram Mário "Tilico", Oldair Barchi, Saulzinho e Bené.  
 
VASCO 2 X 0 CORITIBA já valeu pelo Campeonato Brasileiro-1971. Teve apito de José Faville Neto-SP, renda de Cr$ 64 mil, 430 cruzeiros e gols de Adílson Albuquerque, aos 28, e do “Aranha” Dé, aos 32, ambos do segundo tempo. Admildo Chirol era o treinador deste time: Andrada; Fidélis, Miguel, Moisés e Alfinete; Alcir e Afonsinho; Adílson, Dé (Buglê), Ferreti (Luiz Carlos) e Rodrigues.  Antes dessa nova era dos Brasileirões, os dois já se enfrentavam desde 1º de fevereiro de 1948, quando disputaram um amistoso, no então Estádio Belfort Duarte (atual Couto Pereira), em um domingo, na capital paranaense, com goelada vascaína, por 7 x 2. Na época, o "Coxa" não tinha a menor condição de encarar a “Turma da Colina” que viajava à bordo do “Expresso da Vitória”, um dos mais potentes do planeta.
 
VASCO 3 X 0 SERGIPE, em uma noite de quarta-feira, teve Alcir Portella, aos 15,  Roberto Dinamite, aos 42,  e Luís Fumanchu, aos 54 minutos, balançando as redes do Estádio Lourival Batista, o Batistão, em Aracaju. Valeu pela primeira fase do Campeonato Braileiro-1973, com o treinador Mário Travaglini mandando a campo: Andrada; Paulo César, Moisés, Renê e Alfinete; Alcir (Gaúcho), Buglê e Zanatta; Luís Carlos Lemos (Ademir) Roberto Dinamite e Luís Fumanchu.  

VASCO 3 X 0 INTERNACIONAL-RS, amistoso, em Sã Januário, prevalecendo a fórmula "P-2-P", isto é, Paulo Roberto marcou dois gols e Paulinho o outro.  

VASCO 4 X 0 OPERÁRIO-VG foi um amistoso de 1987, na casa do adversário, com Romário (2), Roberto Dinamite, William, Zé Sergio e até o zagueiro Donato visitando as redes do time mato-grossense da cidade de Várzea Grande. Até então, além daquele "caça níquel", o "Almirante" havia afogados o adversário nos dois ´jogos oficiais que haviam disputado, pelo Campeonato Brasileiro – 08.11.1979 - Vasco 5 x 1, no Maracanã, e 05.10.1986 - Vasco 6 x 0, em São Januário.    

DETALHE: a "Vascodata" 29 de agosto anota quatro empates por 1 x 1: 29.08.1953 – Vasco 1 x 1 Bangu; 29.08.1953 - Vasco 1 x 1 Bangu; 29.08.2001 - Vasco 1 x 1 América-MG e 29.08.2004 - Vasco 1 x 1 Fluminense.