Vasco

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sábado, 10 de fevereiro de 2018

O VENENO DO ESCORPIÃO - PRIMEIRA VISITA DE PRESIDENTE DE PORTUGAL

Almeida em reprodução de www.youtube
O primeiro presidente da república portuguesa a visitar o Brasil foi Antônio José de Almeida, o sexto do seu país e que cumpriu mandato entre 5 de outubro de 1919 A 5 de outubro de 1923.
 Convidado pelo seu colega Epitácio Pessoa, ele veio prestigiar as comemorações do centenário da independência da antiga colônia, em 1922. Mas nem tanto.
 Explica-se: a embarcação que o trazia – um vapor - ainda não estava toda pronta par a viagem e esta atrasou-se,  por dois dias, começando em 28 de agosto. Pra pior, avarias no frigorífico obrigaram a comitiva a parar na espanhola Las Palmas, nas ilhas Canárias, após três dias de navegação.
 Só com 10 dias de atraso, em 17 de setembro, o presidente português desembarcou no Brasil, passando no Atlântico o dobro do tempo que gastava-se na época naquele trajeto. O Almeida conquistou os brasileiros com a sua simpatia. Hospedou-se no Palácio Guanabara e, de cara, mandou uma tremenda balela: “ Já me sinto bem, só de estar no Brasil”, disse, após 20 dias de atribulada viagem e que teve os imprevistos atribuídos a sabotagens de monarquistas desse e do outro lado do Atlântico.
 Sacanagens monarquistas, ou não, o Almeida  foi recebido por uma grande galera, que não se programara para ir ao porto, pois a meteorologia previa para o domingo 17 de setembro muita chuva. No entanto, pintou um sol de rachar e o presidente português foi delirantemente aplaudido, sem falar de ter faturado todas as manchetes dos jornais.
Os portugueses definiam Antônio José de Almeida, sujeito de barbas brancas, como uma figura – além de simpática – de “perfil oriental, alma romântica  e olhos ardentes”, cabendo tudo isso dentro de um caudilho que fora um dos principais responsáveis pela república em Portugal.    

 Contribuiu muito para a simpatia dos cariocas pelo Almeida, de acordo com repórteres que o acompanharam, o seu dom de orador que sabia impressionar,  um autêntico “Rolando Lero” – personagem enrolão, dos programas de Chico Anísio  na TV.
Reprodução de www.jangadadatijuca.blogspot.com
 Ao responder discurso de Epitácio Pessoa, durante banquete no Palácio do Catete, o presidente português chamou o Brasil de “grande pátria” e disse que a sua independência fora um fato espontâneo e natural, consequência de evolução inexorável que nenhuma força poderia impedir. Disser, também, que a nossa independência não partira do “Grito do Ipiranga”, mas vinha sendo formado na consciência nacional.
E não ficou por aí. O “Rolando Lero” português afirmou que o Brasil, mesmo quando colônia, fora, dede cedo, uma nação, com mais condições de vida própria do que muitos outros povos que passavam por independentes, “mas não passavam de organismos subordinados a outros mais poderosos que os dominavam”.      
Pronto! Com uma prosopopeia daquelas, o Almeida tornou-se uma autêntica máquina de fazer discursos. Onde ia, teria que discursar. Durante a visita de 20 de setembro à Câmara dos Deputados, nem “Rolando Lero” seria capaz de dizer o que ele disse: “ ...estou aqui em nome de Portugal, para agradecer aos brasileiros o favor que eles nos prestaram, proclamando-se independentes...”. 
Grande favor! Portugal cobrou do Brasil dois milhões de libras esterlinas para reconhecer a independência brasileira, dinheiro que o Brasil não tinha e precisou pedir emprestado à Inglaterra.
Portanto, se o que o Almeida falou não fosse “una broma”, como dizemos espanhóis, Portugal não iria até 29 de agosto de 1825 para assinar o “Tratado de Paz e Aliança” e reconhecer o Brasil independente, negociado, por Don Pedro I, com o apoio, principalmente, dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Ainda bem que, no Rio de Janeiro, a rapaziada leva tudo na sacanagem. Inclusive, “rolandos leros” portugueses. 

Um comentário:

  1. Uma das maiores figuras no Brasil que apoiava o presidente de Portugal era José Augusto Prestes. Ele se tornaria presidente do Vasco em 1924. Um grande democrata

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