Vasco

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sábado, 18 de novembro de 2017

O VENENO DO ESCORPIÃO - OS AGENTES DA VIOLÊNCIA QUE A TV COLOCA EM SUA TELA

Heróis das revistas em  quadrinhos foram
 para a TV mandar balas
 Sempre que um ato altamente brutal acontece, temos, no dia seguinte , as já tradicionais  “caminhadas pela paz” nas manchetes dos noticiários das TV. Esta, no entanto, contribui muitíssimo para que isso role. Até em novelas assistimos a mocinha invadindo o apartamento do amante e disparando tiros no meio da sala. Sem falar das “chamadas à bala”, o convite para um novo capítulo. Começa com alguém atirando, ou colocando uma arma no rosto de alguém.
 Mas a violência na TV não é de hoje. Criança, a nossa inocência já a consumia. Quando a televisão no Brasil fazia 15 temporadas no ar – aberta em 18.09.1950, pela TV Tupi, em São Paulo –, os chamados “enlatados” vindos dos Estados Unidos traziam para os nossos meninos rajadas de metralhadoras; enforcamentos; afogamentos; empurrões em  precipícios; atropelamentos propositais; surras violentas e até desintegração por pistolas atômicas.          
 Seguramente, muitas dessas crianças consumidoras das brutalidades importadas pela “telinha” aprenderam a produzir violência e se tornaram os bandidos brasileiros que, tempos depois, viveram todas aquelas cenas mostradas pela TV.
 Há 67 temporadas televisivas no Brasil – pesquisei pelas revistas Intervalo, Capricho, Contigo, Revista do Rádio-TV e Realidade –, havia 10 canais entre Rio de Janeiro e São Paulo, as nossas mais populosas capitais. Eles exibiam, em média, 61 filmes semanais, com um mínimo de 80 horas de porrada, matando nunca menos de 100 bandidos (no papel, da TV, é claro).        
 Outros números citam violência distribuída por 57 películas e 32,5 horas de pancadaria, em aventuras mais consumidos por adolescentes; 36 filmes e 23 horas de bang-bang, e mais 36 totalizando 27 horas de ações policiais, com muitos tiros, evidentemente. A violência da bandidagem só perdia exposição na TV para os 24 mil anúncios comerciais semanais, em 200 horas das programações dos 10 canais cariocas e paulistas.
 Reprodução de propaganda de livro
 Portanto, uma herança maldita. Atualmente, com dezenas de canais, multiplique o que você leu acima, por 100, e ainda é pouco. Enquanto, no passado, a violência era embutida no roteiro do inevitável “o bem vence no final”, agora a temos em programas exclusivos e que, quanto maior ela é, bem maior é audiência. Principalmente de bandidos, desempregados e analfabetos (não por culpa deles, mas do nosso modelo social, de concentração de renda nos bolsos de uma elite cruel). 
Mas a TV que exibia tanta violência, como até alienígena tramando, com cientista maluco, a destruição do planeta (Quinta Dimensão) e policiais invadindo cervejarias para massacrar mafiosos (Os Intocáveis), trazia, também, seriados que deveriam ser violentos, mas, incrivelmente, eram menos inacreditáveis. Caso de “O Agente da UNCLE”,  juntando agente  norte-americano da CIA, Napoleon Solo, e o soviético Illya Kuriakin, da KGB, nos tempos da “guerra fria”. Dá pra imaginar? Unidos contra trapaças internacionais.        
O seriado, da NBC, entre 1964 e 1968, teve 105 episódios, chegou por aqui pelos inícios de 1966.  UNCLE era abreviatura de “United Network Command for Law en Enforcement” , isto é, “União de Nações para Comando da Lei e sua Execução”. Só mesmo o escritor  Ian Fleming para criar uma trama dessas. Diziam ter sido armação dele para levar algo tipo 007 par a telinha.
  Hoje, ao ligar a TV e assistir o mocinho apanhando muito – quando não leva um tiro –, nem precisa ter a expectativa de que ele vai se recuperar durante o próximo capítulo – claro que vai! Para se vingar, com muito mais violência, pois a TV precisa de audiência para vender comerciais, e que se dane a educação. Afinal, existe o dia seguinte e as caminhadas pela paz – com locutor anunciando-a, fazendo cara de chocado, revoltado.     

                                   

                                   

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